BRICS

BRICS divulga documento em que, mesmo evitando postura antiocidental, defendem multilateralismo, reforma da ONU, mas com critica a ataque contra Irã e tarifas "indiscriminadas"

Foram evitados ataques diretos aos EUA e Israel

Por Política Real com assessoria e agências
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Líderes posam tendo o Pão de Açúcar ao fundo Foto: Ricardo Stuckert

Com agências.

(Brasília-DF, 06/07/2025). Neste domingo, 6, os líderes do BRICS, em sua primeira versão agora com 11 membros plenos, evitando se colocar como um grupo antiocidental, divulgaram a Declaração da 17ª Reunião de Cúpula do BRICS, realizada no Rio de Janeiro (RJ) sob a presidência brasileira. O documento contém uma ampla defesa do multilateralismo, com o objetivo de promover um sistema internacional mais justo, eficaz e representativo.  Veja AQUI a íntegra do documento de 38 páginas.

“Reafirmamos nosso compromisso com o multilateralismo e a defesa do direito internacional, incluindo os Propósitos e Princípios consagrados na Carta das Nações Unidas (ONU), em sua totalidade e interconexão como seu alicerce indispensável, e o papel central da ONU no sistema internacional”, indica o texto.

O documento cobra ainda uma reforma abrangente das Nações Unidas, em especial de seu Conselho de Segurança, “para que ele possa responder adequadamente aos desafios globais predominantes e apoiar as aspirações legítimas dos países emergentes e em desenvolvimento da África, Ásia e América Latina, incluindo os países do BRICS, a desempenhar um papel maior nos assuntos internacionais”.

Eles criticaram o "aumento indiscriminado de tarifas" no comércio internacional e voltaram a pedir uma reforma no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Sem citar a Ucrânia, os países ainda repudiaram ataques que atingiram pontes ferroviárias da Rússia em junho deste ano. Esta é a primeira vez que o bloco cita uma ação militar direcionada a Moscou em uma declaração.

Na declaração, os líderes saúdam a entrada da Indonésia como membro pleno do BRICS e reconhecem os seguintes países como parceiros: Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Nigéria, Malásia, Tailândia, Vietnã, Uganda e Uzbequistão.

Outro destaque do documento é a adoção da Declaração-Marco dos Líderes do BRICS sobre Finanças Climáticas, a Declaração dos Líderes do BRICS sobre Governança Global da Inteligência Artificial e o endosso ao lançamento da Parceria do BRICS para a Eliminação de Doenças Socialmente Determinadas. “Essas iniciativas refletem nossos esforços conjuntos para promover soluções inclusivas e sustentáveis para questões globais prementes”, afirma o comunicado.

Apesar de pressionar por uma postura mais crítica ao Ocidente, Rússia e Irã conseguiram garantir que parte de seus interesses fossem incorporados na declaração final.

Sem acusar diretamente os EUA ou Israel, o bloco afirma que ataques contra a República Islâmica são uma "violação do direito internacional".

"Expressamos ainda séria preocupação com os ataques deliberados contra infraestruturas civis e instalações nucleares pacíficas sob totais salvaguardas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA)", diz o texto.

Por outro lado, os negociadores preferiram um tom conciliador e rejeitaram usar uma linguagem mais dura ou condenar diretamente Washington pela ação. Os Estados Unidos não são citados no documento de 38 páginas.

Este é o primeiro documento assinado pela nova formação do bloco de economias emergentes, que no último ano, acatou a adesão de cinco novos países. O grupo teve o desafio de contornar resistências internas para atingir um consenso e conseguir emitir uma declaração conjunta.

O grupo agora é formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos e Indonésia.

A expansão do Brics aumentou o peso diplomático do grupo, que busca representar os países em desenvolvimento do Sul Global e reforçar pedidos por reformas em instituições globais. O texto final posiciona o bloco como um defensor do multilateralismo e crítico indireto das políticas comerciais e militares dos Estados Unidos.

A Cúpula do BRICS segue neste domingo com a cerimônia oficial de chegada dos Chefes de Estado e de Governo dos países parceiros e de engajamento externo. Depois, será promovida a sessão plenária “Fortalecimento do Multilateralismo, Assuntos Econômico-Financeiros e Inteligência Artificial”, seguida da adoção da Declaração sobre Inteligência Artificial. Antes da divulgação da declaração, ocorreu a sessão plenária “Paz e Segurança e Reforma da Governança Global”, que teve os debates ampliados em almoço de trabalho. Na abertura do evento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfatizou o potencial da diversidade do BRICS para promover a paz e mediar conflitos.

O encontro, realizado sob o tema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”, segue nesta segunda-feira .7. Será promovida a sessão plenária “Meio Ambiente, COP30 e Saúde Global”.

Os países do BRICS representam 48% da população mundial, 36% do território do planeta, 40% do PIB global e 21,6% do comércio (TradeMap; Banco Mundial). A corrente de comércio do Brasil com o BRICS totalizou US$ 210 bilhões, representando 35% do total em 2024.

O BRICS foi o destino de US$ 121 bilhões das exportações brasileiras, representando 36% do total exportado pelo Brasil em 2024 e foi a origem de US$ 88 bilhões das importações brasileiras, representando 34% do total importado pelo Brasil no mesmo ano (ComexStat). No ano anterior, os investimentos dos países do bloco no Brasil totalizaram cerca de US$ 51 bilhões (Banco Central).

De janeiro a junho de 2025, o intercâmbio entre o Brasil e países do BRICS foi de US$ 107,6 bilhões. As exportações brasileiras alcançaram US$ 59 bilhões, enquanto as importações somaram US$ 48,5 bilhões — superávit de US$ 10,4 bilhões. A pauta de importações brasileiras é baseada, em grande parte, em óleos combustíveis de petróleo, adubos e fertilizantes químicos, embarcações e outras estruturas flutuantes. O Brasil exporta majoritariamente para o BRICS soja, óleos brutos de petróleo e minério de ferro, além de carne bovina, açúcares e celulose.

Como em mandatos anteriores (2010, 2014 e 2019), a presidência brasileira pretende contribuir para o avanço do diálogo e da concertação no BRICS em temas políticos e de segurança, econômico-financeiros, e relativos à sociedade civil. O Brasil segue buscando reformas no sistema de governança global, sempre em prol da maior participação dos países emergentes e em desenvolvimento e de maior legitimidade e eficiência das organizações internacionais existentes. Guiada pelo lema "Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável", a presidência brasileira em 2025 se concentra em duas prioridades: cooperação do Sul Global e parcerias para o desenvolvimento social, econômico e ambiental.

(da redação com informações de assessoria e agências. Edição: Política Real)