31 de julho de 2025
PODER HOJE E ONTEM

Luciano Bivar, o homem que ficou famoso ao colocar para fora um presidente do partido que criou, fala sobre conservadorismo, o que é ser liberal e o Mundo de hoje

Não vejo problemas com o conservadorismo baseado na ideia de tradição e prudência, de mudanças graduais, em contraponto as revoluções, como pensou Edmund Burke

Por Política Real
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Luciano Bivar tendo ao fundo a obra de Athos Bulcão Foto: assessoria

( reeditado) 

Por Política Real

(Brasília-DF, 02/10/2025). O empresário e economista pernambucano Luciano Bivar quando criou em 1994 o Partido Social Liberal (PSL) essa combinação, social e liberal, não estava em moda, apesar o PSDB ter entrado em moda. Hoje, a combinação entre ser social e liberal entrou em moda face a crise da socia-democracia, as dificuldades do liberalismo e o crescimento do Novo Conservadorismo. 

Depois de alguns anos se dedicando mais aos negócios que a política, Bivar deu espaço a novidade conservadora que prometia um governo liberal, Jair Bolsonaro, que se elegeu presidente da República em 2018.

Bivar logo se decepcionou e se afastou do projeto que na prática nada tinha de liberal. Com isso, Bivar entrou para a história da política brasileira ao viabilizar a saída de um presidente da da República, cumprindo o primeiro mandato, de um partido político.

Dentro da tradição brasileira de “aggiornamento”, ele preferiu ser protagonista da criação de um novo grande partido o União Brasil que foi a fusão do PSL com o tradicional Democratas, que vinha do Partido da Frente Liberal, que já foi o maior partido do Brasil.

Luciano Bivar falou à Política Real sobre temas centrais da política nacional. Veja os principais momentos da conversa:

Política Real: O senhor esteve à frente da primeira grande fusão de partidos de centro-direita no Brasil no Século 21 que deu largada a novas fusões.  Como o senhor avalia aquela decisão e como o senhor avalia a tendência de redução de partidos políticos no Brasil, não por exigência legal, mas por decisão do mundo político?

Luciano Bivar:  O objetivo da reforma partidária foi conter a fragmentação da base parlamentar como se o problema do Brasil fosse esse. Essa foi uma narrativa liderada pelos grandes partidos que começavam a enxergar o próprio enfraquecimento. Esse discurso, um tanto elitista, foi prontamente comprado pela mídia. Nesse contexto vieram os fundos eleitorais e partidário.

Meu entendimento é que a fragmentação da base parlamentar não era causa, mas efeito de um problema mais essencial que é a falta de organicidade e de projetos verdadeiramente políticos nos partidos. Excetuando os partidos de esquerda, poucos votam num partido por conta das suas bandeiras, e menos ainda participam de suas atividades.

Nessa conjuntura institucional, onde há diversos incentivos para a consolidação, o movimento que encabeçamos com a fusão do PSL e do União se torna o caminho natural. Mas hoje, vejo que esse arranjo se dá a partir de projetos individuais que se desdobram em alianças regionais e nacionais. E que faz, no sentido de participação democrática, os partidos hoje estarem ainda mais distantes da população que antes. Até porque financeiramente eles hoje não dependem de associados, doadores, e nem de alianças com o governo executivo. Com as emendas parlamentares, em todas as suas modalidades, é o legislativo que avança sobre o executivo por intermédio das pequenas prefeituras, as quais direcionam sua verba.

Política Real: Ser conservador era mal visto, especialmente pelo momento de criação de nova Constituição, mas, hoje, todas as pesquisas têm mostrado que o brasileiro se considera conservador. Face sua experiência, o que isso significa?

Luciano Bivar:  Não vejo problemas com o conservadorismo baseado na ideia de tradição e prudência, de mudanças graduais, em contraponto as revoluções, como pensou Edmund Burke.

Mas o que se apresenta sob essa bandeira no Brasil é um movimento reacionário que se viabilizou como espectro político o combate a corrupção, mas que foi muito além disso.

As redes sociais permitiram, ainda que por meio de fakenews, novas zonas de influência, que são por um lado democráticas, mas, por outro, altamente poluídas, alienantes e danosas. Em meio a todo esse desarranjo político, social e econômico, discursos moralistas acabaram capturando parte significativa da população. A força desses movimentos reside justamente na soma dessas deficiências com o advento das novas tecnologias. 

O pensamento liberal, ao qual me filio, foi historicamente aliado de movimentos conservadores em determinados momentos históricos, mas nunca conivente com esse ímpeto reacionário.

Política Real:  O senhor é um social liberal, como disse em seu mais recente livro. O Centro-Oeste era uma região sem futuro até a chegada da correção do solo. Hoje, é um destaque econômico. O Nordeste é visto como um novo Centro-Oeste com as novas energias que se associam com os hubs de chips para inteligência artificial. O senhor avalia que o Nordeste será a nova região de explosão econômica? 

Luciano Bivar:  Sem dúvida, o Centro-Oeste cresceu muito com o avanço tecnológico no agro, que hoje permite que o Brasil consiga exportar mais e contribuir para a sustentabilidade das nossas transações correntes.

O Nordeste tem um potencial muito grande para a energia solar e eólica. Energia é a matéria prima para o avanço das inteligências artificiais e dos centros de processamento de dados, de forma geral. Hoje há um excedente de produção de alguns ramos desta energia que já poderíamos aproveitar na região. Mas é importante alinhar isso que já está na mão com outras políticas que gerem emprego e renda para a região, afim de corrigir o déficit social em relação a algumas outras regiões do Brasil.

Política Real:  O senhor tem uma formação como empreendedor com formação anglo saxônica, um liberal. Como o senhor observa este momento da sociedade e o poder político dos Estados Unidos que vive a encruzilhada para o seu futuro como maior economia do Planeta?

Luciano Bivar:   ⁠Entendo que os Estados Unidos estão pondo fim a uma ordem global que, de forma geral, gerou estabilidade e prosperidade para todo o mundo desde o seu surgimento, com final da segunda guerra, em 1945.

Ainda que eu defenda o liberalismo, não acho que os governos devam se posicionar e atuar como empresas privadas. É preciso distinguir cooperação de competição. É preciso entender que existem políticas de governo e políticas de Estado. É preciso entender que as instituições precisam ser maiores que as pessoas que as dirigem.

Não imaginei que iria ver uma reviravolta tão grande nessa fase da minha vida. Espero que tudo isso seja um lapso de sanidade, e que essa nação, que liderou por tantos anos o ocidente, recobre seus sentidos e sua posição de liderança. Se tem alguma coisa boa para sair de todo esse rearranjo, é que as demais nações e alianças comerciais, devem começar a olhar mais para ao lado afim de diminuir sua dependência nas superpotências.

Os emergentes, a Europa, espero que surjam novas agendas que nos unam, para que o mundo não replique o que testemunhamos no auge da era bipolar.

 

Política Real:   O sr. votou na aprovação na primeira regulamentação da Reforma Tributária, agora a lei complementar nº 214/2025. O Senado acabou de aprovar a segunda regulamentação da reforma tributária que chega à Câmara, o texto (PLP 108/2024) define regras de arrecadação, cálculo de alíquotas e transição até 2032.  No que o seu mandato pode tratar desse assunto e o que o sr. Considera pertinente?

 

Luciano Bivar:  O que nós propomos e continuamos insistir, é o IUF ( imposto único federal  com uma alíquota de 1.5) em toda movimentação financeira do país.

A movimentação financeira  devidamente estimado em nosso país é de 100 trilhões e com isso arrecadariamos mais do que hoje a Receita recebe.Substituiremos onze impostos federais. Tem um caráter universal (alteramos a base de cálculo); insonegavel e totalmente simples, sem qualquer burocracia. Isso tudo esta inserido na revolução digital, já preconizada por Alvin Toffler em 1965.

Temos tudo para partir na frente neste mundo moderno de inovações tecnológicas.

(da redação edição Genésio Araújo Jr.)