ESPECIAL DE FIM DE SEMANA. Nordeste deve ficar mais árido. Relatório da Comissão sobre Mudanças Climáticas aponta que o clima nordestino deve acentuar e confirma o potencial eólico da região …
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(Brasília-DF, 20/06/2008) O relatório final da Comissão Mista Especial sobre Mudanças Climáticas traçou um futuro mais árido e um panorama estratégico com relação a produção de energia eólica na região nordeste. De acordo com os resultados do trabalho realizado pela comissão, o processo de mudança climática que o país está vivendo acarretará um nordeste com níveis menores de açudes que causarão impacto na agricultura de subsistência, na saúde e na biodiversidade da Caatinga, que deverá ser extinta.
A situação do nordeste também é pessimista com relação a quantidade de chuvas. O relatório afirma que “quanto às simulações do balanço hídrico, o cenário pessimista indica tendência de extensão da deficiência hídrica por praticamente todo o ano para o Nordeste, isto é, tendência a ‘aridização’ da região semi-árida até final do século XXI”. Ainda na metade deste século, o nordeste vai sofrer com o aumento nos extremos de temperatura. As noites ficarão mais quentes e haverão ondas de calor mais intensas.
Em uma das audiências públicas realizadas pelos membros da comissão, foi apontado que esta região será atingida pelas mudanças que deverão ocorrer na Amazônia Ocidental. Nesta parte da Amazônia, haverá um processo gradual de savanização. No nordeste, a vegetação semi-árida será gradualmente substituída por vegetação de clima árido. E isso poderá fazer com que haja risco de perda significativa de biodiversidade. De acordo com o relatório, um aumento de 2ºC a 2,5ºC, que pode ocorrer durante este século, acarreta um risco de extinção de cerca de 30% das espécies de plantas.
Para o futuro, segundo o relatório, a média de todos os modelos diminuição na quantidade de chuva no Nordeste e na Amazônia, como conseqüência do aquecimento global.
Isso porque, de acordo com as projeções das pesquisas sobre o aquecimento global, a existência de fenômenos El Niño ficará mais intensas, o que faria aumentar o volume pluviométrico no Sul do Brasil e diminuir as precipitações no Nordeste e na Região Amazônica.
ENERGIA EÓLICA – Além de mostrar que a realidade climática nordestina deve ser acentuada. O relatório consolidou a potencialidade de produção de energia eólica da região e sugeriu que o Ceará deveria ser o pólo estratégico da produção. Segundo o estudo, essa região tem 52% da capacidade do país em investir em energia eólica. “O nordeste tem uma condição privilegiada para a geração eólica de eletricidade, decorrente da uniformidade, tanto de intensidade, como de direção dos ventos”, afirma o texto.
Nessa região, a potência firme corresponde, em média, a 40% da potência instalada. No Sudeste, esse percentual seria de aproximadamente 32%, ao passo que, na Europa, fica em torno de 28%. Feito esse investimento, o Nordeste assim como maior produtor seria o maior beneficiado pois o texto disse que um dos problemas da produção de energia da região é a inadimplência das distribuidoras federalizadas. O texto sugere que “é imperioso inserir a capacidade de geração eólica do Nordeste e, em especial, do Ceará, no planejamento estratégico do setor elétrico brasileiro”.
O investimento nessa área é importante comparado aos prognósticos de uma futura escassez de energia, por diminuição dos recursos hídricos. “As fontes alternativas de energia ainda não são economicamente viáveis para expansão do sistema elétrico em larga escala. Contudo, é imperioso inserir a capacidade de geração eólica no planejamento estratégico do setor elétrico brasileiro”, concluiu o texto do relatório.
Segundo o texto, o potencial de geração de energia eólica no Brasil é praticamente o mesmo da geração hidrelétrica (Nordeste: 75GW; Sudeste: 29,7GW; Sul: 22,8GW). Além disso, existe uma complementaridade sazonal entre os potenciais de geração hídrica e eólica de energia, ou seja, há mais ventos na estação seca, quando o armazenamento de água nos reservatórios de hidrelétricas fica comprometido.
O texto diz ainda que a energia eólica apresenta as seguintes vantagens competitivas: grande extensão litorânea do Brasil, onde se concentram mais de 70% da população; proximidade dos centro de consumo; localização estratégica do potencial eólico, situado em regiões como litoral do Nordeste e do Sul, ou seja, nas extremidades do Sistema Interligado Nacional.
A idéia do relatório é de que o Brasil pode transformar-se em base industrial para a produção e a difusão de tecnologias para a geração de energia a partir de fontes alternativas. “É preciso instalar uma indústria de fornecimento de materiais e equipamentos para a geração de energia eólica, inclusive com a formação de pessoal qualificado para o desenvolvimento de atividades de pesquisa e desenvolvimento”, sugere.
SUGESTÕES – O relatório final tratou de fazer sugestões de áreas que deveriam ser priorizadas e projetos de Lei que deveria ser reforçados. Entre eles está o Projeto de Lei Complementar (PLP) nº 351, de 2002 (PLS nº 53, de 2000 – Complementar, no Senado Federal), de autoria da Senadora Marina Silva, que “cria reserva do Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal – FPE para as Unidades da Federação que abrigarem, em seus territórios, unidades de conservação da natureza e terras indígenas demarcadas”.
A proposição desse PL promove uma redistribuição do FPE, garantindo que 84% serão destinados ao Norte, Nordeste e Centro-Oeste; 14% ao Sul e Sudeste; e 2% para constituir reserva do FPE a ser distribuída às Unidades da Federação que abriguem unidades de conservação da natureza e terras indígenas demarcadas.
(por Grasielle Castro com informações do Relatório Final da Comissão Mista Especial sobre Mudanças Climáticas)