ESPECIAL DE FIM SEMANA . Nordestinos cobram mais espaço dentro da diretoria do PT; Congresso pode definir o rumo do partido nos próximos anos. A Política Real teve acesso….
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(Brasília-DF, 31/08/2007) O Partido dos Trabalhadores realiza nesse fim de semana o seu 3º Congresso Nacional, na cidade de São Paulo. Na ocasião, a militância petista pretende debater questões relativas ao País, ao socialismo e ao próprio partido, todas reunidas em torno de três grandes temas: “O Brasil que Queremos”; “Socialismo Petista”; e “PT: Concepção e Funcionamento”. O evento é encarado por muitos como uma oportunidade para a legenda superar a crise instalada por denúncias envolvendo dirigentes partidários, rever suas práticas e se preparar para o futuro.
É esperada a presença de mais de 3.000 pessoas no encontro, entre delegados, observadores, convidados e assistentes. Já há mais de três meses que a vida interna da sigla está voltada para a ocasião. Milhares de municípios de todo o País participaram da escolha dos 913 delegados com direito a voto que irão definir o encaminhamento das 75 propostas já apresentadas a cerca dos três temas centrais. Mais de 60 organizações internacionais irão acompanhar in loco o andamento do Congresso.
O clima das discussões, entretanto, pode ser tenso em virtude da coincidência com o julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal, do chamado caso do “mensalão”, principal escândalo que acometeu membros do partido e aliados do Governo Federal.
“Espero que esse grupo que comanda o partido há 12 anos faça uma autocrítica. Enquanto internamente acirrou-se a briga pelo poder, outros partidos de esquerda tomaram alguns dos espaços junto à sociedade que historicamente eram ocupados por nós”, alerta o deputado federal Paulo Rubem Santiago (PE), integrante da ala mais à esquerda da legenda e um dos principais críticos no parlamento brasileiro à direção anterior do partido. Em Pernambuco Rubem é o principal líder da corrente Coletivo Florestan Fernandes e nacionalmente se alinha à Democracia Socialista.
“Ninguém constrói um partido desse tamanho sem seus dirigentes cometerem erros e sem uma reavaliação de seu programa”, comenta José Gimarães (CE), um dos alinhados do Campo Majoritário e irmão de José Genuíno (SP), um dos acusados no processo do chamado “mensalão”.
Para outros petistas, no entanto, o julgamento em curso pelo STF não deve influenciar no andamento das discussões. “Não acredito que o Congresso vá mudar seu rumo por causa desse episódio”, opina o também deputado federal Pedro Eugênio, mais próximo à Articulação Unidade da Luta, maior tendência dentro da sigla. “O País passa atualmente por um teste que poucos lugares do mundo suportariam, tendo figuras de relevante história política envolvidas em um processo. Mesmo com tudo isso o Brasil não sofreu nenhuma seqüela institucional ou administrativa”, completou. O parlamentar ressalta a transparência que vem sendo dada à questão no governo Lula, condenando que presidentes anteriores não fizeram o mesmo. “O governo de FHC teve problemas graves que foram colocadas debaixo do tapete”, alega.
Se há dissonâncias quanto ao peso da questão ética dentro das estâncias partidárias, parlamentares convergem quando o assunto é a descentralização do comando, oferecendo mais espaço a políticos de outras regiões fora do estado de São Paulo. Essa mudança é defendida, inclusive, por pessoas do Campo Majoritário, que há pouco mais de uma década está no comando do poder central das instâncias partidárias.
“Minha expectativa é que o Congresso debata política, unificando o PT e repactuando as relações internas. Essa repactuação deve acontecer dentro da própria direção, dando maior espaço, por exemplo, para os representantes nordestinos.”, ressaltou José Guimarães. Tal idéia é corroborada por Pedro Eugênio (PE). “Sempre defendi a democratização no partido, com a distribuição de forças dentre as demais regiões”, diz.
O parlamentar, entretanto, alega que essa mudança na direção não deve ser pautada pela crise envolvendo alguns políticos do comando. “A descentralização do poder não pode estar atrelada a esse processo que ocorre no STF, mas à uma necessidade de desenvolver uma política regional forte”, argumento Pedro Eugênio.
Outro ponto que deve antagonizar o encontro é a relação entre partido e governo. Se por um lado Paulo Rubem deixa claro que o PT deve se desgarrar da máquina do Estado e seguir de forma mais independente da plural coalizão governista, há quem, como José Guimarães, defenda o fortalecimento interno e a unidade do partido para que este assuma o protagonismo da aliança política em torno do Presidente da República. “Precisamos preparar o partido para ser líder da coalizão. Um PT forte significa uma base sólida”, defendeu.
“Se não houver possibilidade de reviravolta tenho medo que o PT saia desse Congresso sem identidade definida. Ou há uma mudança de rumos ou, ao final do segundo mandato do presidente Lula, o PT vai ter dificuldade de conquistar espaços e ressonância junto aos movimentos populares e outros segmentos da sociedade”, contrapõe Paulo Rubem.
Apesar da contenda entre as tendências pela adoção de suas idéias programáticas, petistas acreditam que o debate de projetos para o País deve se sobrepor a briga por espaços e pela liderança interna. “Eu vejo que o PT vai convergir e caminha para o consenso de um congresso altamente propositivo. O papel que devemos exercer agora é de colaborar para a criação de mecanismos que permitam novos avanços sociais e maior desenvolvimento econômico. Este é um momento diferente daquele que marcou o último encontro nacional do partido”, concluiu Pedro Eugênio.
( por Liana Gesteira com edição de Genésio Araújo Junior)