31 de julho de 2025

ESPECIAL DE FIM DE SEMANA. Crise da Saúde do Nordeste começa a perder força. Organizações médicas cobram de Ministro da Saúde plano de carreira e piso salarial nacional….

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Por admin
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(Brasília-DF, 24/08/2007) O Nordeste enfrentou neste mês uma grande crise no setor de Saúde com paralisações de categorias médicas que reivindicavam uma recomposição salarial e melhores condições de trabalho. A situação tem alertado as autoridades federais, como o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, e o próprio Congresso Nacional.



Ontem, o ministro teve um encontro com representantes de organizações médicas para discutir a crise da Saúde no Nordeste. O encontro contou com a presença do presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), Eduardo Santana, do Conselho Federal de Medicina, Edson Oliveira Andrade, e da Associação Médica Brasileira, José Luiz Gomes do Amaral.



Durante o encontro os médicos relataram a situação da crise na região Nordeste e expuseram ações a longo prazo para estabilizar a situação dos profissionais da rede pública. Segundo o Dr. Genário Barbosa, do Conselho Federal de Medicina, que esteve ontem na reunião, uma das propostas é instituir um Plano de Carreira e o piso salarial nacional. “Se conseguíssemos instituir esse piso o grande movimento grevista acabaria. O que não pode é um médico receber R$ 70 ,00 por um procedimento cirúrgico que as vezes dura 7 horas”, alegou Barbosa.



O Doutor explica que uma proposta de piso chegou a ser aprovada em comissão no Congresso durante o governo de FHC, mas não foi pautada em plenário. Genário Barbosa explica que essa situação tem afastado os recém formados de atuar na rede pública, o que poderá ser um problema no futuro. “Temos que criar uma carreira. Uma pesquisa feita pelo Conselho aponta que os médicos de rede pública têm 3 ou 4 empregos. Por isso os jovens não querem mais trabalhar no setor público”, explica.



A reunião de ontem com Temporão durou cerca de 2 horas. Genário Barbosa elogiou a disposição do ministro em ouvir os problemas do setor e informou que uma agenda de trabalho será construída entre organizações médicas e o ministério para pensar em propostas. “Mas muitas questões não dependem da vontade do ministro. O piso salarial e o plano de carreira são questões políticas, que devem ser apreciadas pelo Congresso”, diz o médico.



Crise Nordeste



As paralisações dos médicos no Nordeste estão se normalizando. Hoje os médicos de Alagoas anunciaram o retorno ao trabalho após uma negociação com o governo. A greve segue ainda entre cardiologistas de João Pessoa e de Fortaleza.



Na semana passada o Ministério da Saúde anunciou a liberação de R$ 555 milhões para atender às necessidades de assistência médica dos Estados e do Distrito Federal. Para receber os recursos adicionais, os governos estaduais deverão encaminhar ao ministério um documento especificando onde vão aplicar o dinheiro. Pernambuco será o primeiro a receber os recursos, com um anúncio de repasse de cerca de R$ 50,3 milhões.



Alagoas



O estado de Alagoas teve a situação mais grave, com uma greve que durou 89 dias. Hoje pela manhã os médicos da rede estadual alagoana aprovaram em assembléia a proposta de reajuste parcelado de 39,3% dividido em cinco vezes, e retornaram ao trabalho.



O acordo entre o estado e a categoria foi parcial. Os médicos ainda exigem que o Governo aceite a suspensão das demissões coletivas, feita por 143 profissionais do setor, e querem a anulação dos dias descontados e das multas aplicadas pela Justiça. Na última terça-feira (21) a Justiça anunciou que ia aplicar uma multa de R$ 100, 00 por cada dia de greve.



Os médicos alagoanos pediam 50% de reajuste. O Governo dizia que não tinha condições de oferecer mais de 5%. Após uma reunião de sete horas, na noite de terça-feira , começou a se costurar um acordo. Com o aumento de 39%, as contas da Saúde do estado terão um acréscimo de R$ 1,26 milhão.



Mesmo com a volta dos médicos ao trabalho, o atendimento não deve ser normalizado nas unidades de saúde do estado. Outros 5 mil servidores ligados à Saúde – como enfermeiros e técnicos de enfermagem – continuam parados. A categoria quer, no mínimo, o mesmo reajuste dado aos médicos.



Paraíba



Na Paraíba, os cardiologistas de João Pessoa continuam em greve. Em reunião com o Governo estadual, hospitais e promotores, os grevistas garantiram o atendimento de casos urgentes. Os pacientes com cirurgias marcadas vão ser encaminhados para hospitais de Campina Grande (PB) e de Pernambuco.



Os médicos do PSF (Programa Saúde da Família) de João Pessoa, que também estava parados desde segunda, encerraram a greve. Apesar de pedirem equiparação salarial com os profissionais de Campina Grande, que recebem R$ 4.500, aceitaram o reajuste proposto pela prefeitura que eleva para R$ 4.125 o salário do prestador de serviço e para R$ 4.000 o do médico efetivo.



Fortaleza



No Ceará, os médicos e anestesistas de cirurgias cardíacas na rede conveniada ao Sistema Único de Saúde (SUS) de Fortaleza estão paralisados há cerca de um mês. A greve tem causado a superlotação da emergência do Hospital de Messejana, na capital do Estado. Os médicos que estão trabalhando, usam tarjas pretas nos braços, em sinal de luto pela saúde.



Os médicos de Fortaleza reivindicam piso de R$ 1.700, com progressão, até chegar aos R$ 3.400, proposto pela Federação Nacional da categoria. A Prefeitura propõe um piso de R$ 751. O piso atual é de R$ 726.



Pernambuco



Em Pernambuco, a situação se normalizou no início de agosto. O Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) decidiu retornar hoje aos hospitais, após 18 dias de greve. A proposta do Estado, foi de reajustar os salários em 26%. Com o aumento, o piso dos plantonistas e diaristas passou de R$ 1,4 mil para R$ 1,9 mil. A gratificação de plantão foi reajustada em 66%, passando de R$ 600 para R$ 1 mil. Com isso, a remuneração total será elevada de R$ 2 mil para R$ 2,9 mil.



A greve dos médicos contou com o apoio de pelo menos 350 profissionais, de acordo com o sindicato. Durante a paralisação, atendimento nas emergências do Sistema Único de Saúde (SUS) foi prejudicado. Cirurgias programadas com antecedência deixaram de ser marcadas nos hospitais Otávio de Freitas e Getúlio Vargas por determinação da Secretaria Estadual de Saúde



( por Liana Gesteira Costa com edição de Genésio Araújo Junior)