ESPECIAL DE FIM DE SEMANA.

Roberto Smith fala dos planos para gestão do BNB nos próximos anos; Melhor atendimento ao cliente, racionalização de gastos e avanços tecnológicos são prioridades da gestão – Ele disse que vetos a lei da nova Sudene afetam os interesses do Banco.

(Brasília-DF, 30/03/2007) Nesta semana o governo Lula anunciou a recondução de Roberto Smith para o cargo de presidente do Banco do Nordeste (BNB). Doutor em Economia e especialista em Desenvolvimento Regional, Roberto Smith, está à frente do BNB desde fevereiro de 2003. Em uma entrevista especial para a agência Política Real, Smith falou sobre a responsabilidade de assumir uma nova gestão, sem promover a estagnação da instituição. Ele deu destaque a modernização.



Segundo o presidente, o maior desafio para essa gestão é promover um maior refinamento do trabalho do Banco, tanto na forma de atendimento ao cliente de longo e curto prazo como na melhoria dos processos internos, realizando economias de escala e racionalizações. “Essa questão do refinamento que eu coloco é para poder atender melhor os clientes e trabalhar com maior produtividade, com gastos menos elevados, e crescendo a capitalização do Banco”, disse.



O economista também apontou para uma mudança na concepção do banco. “Havia uma concepção de que o Banco do Nordeste era um banco de desenvolvimento e o cliente não importava. Hoje nós entendemos que o cliente é importante, nós avançamos nas operações comerciais. Nós somos um banco comercial em termos de atendimento aos nossos clientes de longo prazo”, explicou.



Smith ressaltou o aumento significativo nas operações feitas pelo Banco ao longo dos últimos quatro anos, que cresceram à taxa média de 50,8% ao ano. “A gente cresceu na ordem de aplicações de R$ 1,4 bilhão em 2002 para R$ 7,3 bilhões em 2006. Estamos operando em um patamar muito mais elevado e vamos continuar crescendo”, informou o presidente.



Os dados do BNB mostram que a inadimplência em 2002 era de 46,5% nas operações do FNE e 37,5% para o Banco como um todo. Em 2006 as taxas de inadimplência caíram para 4,8% nos financiamentos do FNE e 4,5% no total do Banco, estando atualmente dentro da média do sistema financeiro.



Ao ser questionado sobre o Pronaf, um dos programas mais importantes de financiamento do Banco, Roberto Smith destacou o crescimento do Crediamigo, que programa de microcrédito produtivo orientado do BNB. O Crediamigo contratou nos últimos quatro anos um total de 2,2 milhões de operações, no montante de quase R$ 2 bilhões. “Agora nós estamos inserindo dentro do processo de financiamento melhoria tecnológica. A nossa idéia é que eles evoluam do Pronaf B para o Pronaf C e assim por adiante. A gente tem que lutar para a agricultura familiar estruturar uma classe média no campo”, declarou.



O economista também comentou o prejuízo que os vetos proferidos pelo Executivo feitos ao projeto de recriação da Sudene podem trazer para o BNB. “Alguns dos vetos feitos pelo presidente na recriação da Sudene afetam o Banco dentro da proposta original do projeto. Uma delas, por exemplo, permitia que o banco pudesse atuar com capital de giro”, relatou Smith, que esteve presente em diversas discussões no Congresso para contribuir na elaboração do Projeto de Lei de recriação do órgão. Segue abaixo a entrevista na íntegra.



O que podemos esperar com a sua recondução ao cargo de presidente do BNB?



Eu tenho brincado dizendo que sou o novo presidente do Banco do Nordeste. Mas não é brincadeira é coisa séria porque a questão de recondução sempre é perigosa, se a gente fica na mesmice. O Banco tem trabalhado dentro de uma visão estratégica, elaborado dentro de uma forma democrática, com participação dos funcionários, onde devemos avançar de maneira qualitativa. O BNB deve passar por um maior refinamento, que é uma exigência dentro do papel no desenvolvimento que ele tem e ao mesmo tempo na sua atuação econômica. O Banco tem que melhorar toda a forma de atingir o cliente, de maneira melhor, mais rápida, mais focada. Ele tem que estar embasado dentro de uma concepção de desenvolvimento orientando a nossa forma de agir. Ao mesmo tempo ele deve passar por um processo de racionalização interna, sem significar medidas drásticas, no sentido de que haja uma diminuição dos custos, mas um aumento da produtividade. Então são vários fatores que se alteram simultaneamente, como a melhoria na atuação das agências, a melhoria tecnológica, a abertura de um ramal de contato com o público através da rede de correspondentes bancários, que devemos estar implantando a partir do mês de julho deste ano. Vamos melhorar o sistema de máquinas de atendimento ao público. Porque hoje a moderna concepção bancária ela vai muito por aí, e menos por agencias. Essa é a política da Caixa Econômica, do Banco do Brasil, houve o refinamento muito grande na abertura de agencias e um aumento em outros mecanismos que promovem uma aproximação maior com o cliente. Havia uma concepção de que o Banco do Nordeste era um banco de desenvolvimento e o cliente não importava. Hoje nós entendemos que o cliente é importante, nós avançamos nas operações comerciais. Nós somos um banco comercial em termos de atendimento aos nossos clientes de longo prazo. Isso é importante e ao mesmo tempo traz maior lucratividade, pois o Banco precisa crescer, precisa capitalizar.



Quais as principais mudanças do Banco ao longo da última gestão?



Nós assumimos uma gestão em que o Banco cooperava em um nível muito rebaixado. A gente cresceu na ordem de aplicações de R$ 1,4 bilhão em 2002 para R$ 7,3 bilhões em 2006. Estamos operando em um patamar muito mais elevado e vamos continuar crescendo. Mas essa questão do refinamento que eu coloco é para poder atender melhor os clientes e trabalhar com maior produtividade, com gastos menos elevados, e crescendo a capitalização do Banco.



O Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf) é uma das principais fontes de financiamento do Banco. Qual a previsão do BNB para o programa nos próximos anos?



Em relação ao Pronaf a gente está avançando muito com um projeto que começou como piloto que é o Agroamigo. O Agramigo pega o Pronaf B dentro de uma nova roupagem. Adaptamos a metodologia do Crediamigo ao Pronaf. Ou seja, a gente opera através de uma organização social e contrata técnicos agrícolas. Hoje nós contratamos toda a disponibilidade de técnicos agrícolas que estão se formando no Nordeste. O MDA tem contribuído para estruturar uma melhor acessibilidade desses técnicos agrícolas. O que significa isso? A gente esta contribuindo dentro do Pronaf B, que atende a camada da população que tem renda familiar até R$ 2 mil por ano, passem a ter avanço tecnológico para que eles possam ganhar dinheiro. Nós estamos inserindo dentro do processo de financiamento melhoria tecnológica. A nossa idéia é que eles evoluam do Pronaf B para o Pronaf C e assim por adiante.



A gente tem que lutar para a agricultura familiar estruturar uma classe média no campo. Mesmo com as dificuldades do semi-árido, essa região oferece perspectivas, que há um tempo atrás era colocado como negativas e hoje se coloca como vantagem no mercado. Estamos trabalhando dentro de um modelo em que buscamos grandes empresas que sejam integradoras da pequena produção. Isso acontece dentro do modelo da produção de biodiesel, dentro de um modelo de produção de fécula e amido através dos pequenos produtores de mandioca. Temos ainda um modelo revolucionário do Nordeste que vai substituir todo o gado leiteiro que hoje produz na média 3 litros por dia por um gado que produza 15 litros diariamente. Isso nós estamos fazendo dentro de um planejamento territorial, onde o banco financia através do Pronaf essas instituições. Na outra ponta estamos fazendo financiamento para longas escalas de matrizes, de forma que cada produtor possa ter uma estrutura de resfriamento do leite e com isso tem um valor agregado, com assistência técnica da grande empresa. E o banco em cada área vai financiar o processamento do leite. São grandes empreendimentos estruturadores do pequeno produtor, em que esse pequeno produtor possa dar garantia aos contratos firmados com o grande produtor e a grande empresa não destrua as galinhas dos ovos de ouro, querendo ganhar muito dinheiro e arrebentar com o pequeno. Esse equilíbrio tem funcionado muito bem e a gente acha que essa é uma forma da gente conseguir trabalhar no Nordeste, que infelizmente conta um grande nível de analfabetismo estrutural. Ou seja, o avanço tecnológico tem que vir em cima desse trabalho que a gente faz através da Oscip de técnicos agrícolas em conjugação com a grande empresa, que pesquisa e que tem os vetores de maior avanço tecnológico.



O Sr. sempre esteve presente nas discussões que ocorreram no Congresso em torno da elaboração do projeto de recriação da Sudene. Como o Sr. observa os vetos proferidos pelo executivo ao projeto?



Alguns dos vetos feitos pelo presidente na recriação da Sudene afetam o Banco dentro da proposta original do projeto.



Uma delas, por exemplo, permitia que o banco pudesse atuar com capital de giro. Já temos agências em alguns setores da economia onde as pessoas trabalham com tecnologia mais avançada, porém não têm garantias. Então há empresas que necessitam que o banco entre com o capital de giro. Ele se torna avalista central dessa empresa e quando a empresa passa a ter lucro, isso retorna para o empreendimento do banco.



Essa era uma prerrogativa que o banco tinha na Lei de recriação da Sudene e foi vetado. Nós entendemos que isso poderia contribuir para o novo papel do banco, porém não vai prejudicar a atuação do banco porque a gente sempre busca novas formas de financiamento, novas formas de se adequar ao desenvolvimento dos mercados. O Banco não pode ficar parado.



( por Liana Gesteira com edição de Genésio Araújo Junior)

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