ESPECIAL DO FIM DE SEMANA.
Parlamentares analisam a indicação de 35 nordestinos entre os 100 mais influentes do Congresso; Pernambuco foi o estado que teve mais nomes indicados da região – Política Real questiona o prestígio pessoal dos parlamentares e seu retorno político para a região.

( Brasília-DF, 30/06/2006) O Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) divulgou nesta semana a lista dos 100 cabeças do Congresso Nacional em 2006. Anualmente, o órgão faz um levantamento dos deputados e senadores mais influentes do Poder Legislativo Federal a partir de critérios quantitativos e qualitativos, que leva em consideração aspectos institucionais, reputacionais e de tomada de decisão. Essa é 13 º edição do levantamento feito pelo órgão.





Pelo levantamento, conclui-se que os parlamentares que comandam o processo decisório no Congresso Nacional têm formação superior, são profissionais liberais, defendem a economia de mercado, são predominantemente de centro, têm mais de um mandato, são oriundos de regiões ricas ou dos Estados ricos das regiões pobres, pertencem aos maiores partidos, destacam-se como articuladores e debatedores.





Dentre a lista dos 100 mais influentes, 35 são parlamentares que representam a região Nordeste. Mas além desses existem ainda 3 parlamentares nordestinos, destacados com influentes, que hoje atuam em outros estados como o sergipano Aldo Rebelo (PCdoB-SP), o maranhense José Sarney (PMDB-AP) e o pernambucano Cristovam Buarque (PDT-DF), que somariam um número de 38.





PARTIDOS – O PT é o partido que mais revelou parlamentares influentes, seguido do PFL , do PSDB e do PMDB. Todos os partidos tiveram como destaque algum nordestino, exceto o PDT, que teria Cristovam Buarque como nordestino, mas não como parlamentar da região. O PFL é o partido que mais reúne líderes do Nordeste. Mas o PL também se destacou, pois dos 3 nomes indicados como influentes todos foram da região.





Veja abaixo a representação de nordestinos em cada partido:



PT – teve 22 parlamentares influentes, 4 são do Nordeste



PFL – teve 17 parlamentares influentes, 10 são do Nordeste



PSDB – teve 14 parlamentares influentes, 4 são do Nordeste



PMDB – teve 14 parlamentares influentes, 5 são do Nordeste



PTB – teve 6 parlamentares influentes, 3 são do Nordeste



PSB – teve 7 parlamentares influentes, 2 são do Nordeste



PL – teve 3 parlamentares influentes, todos são do Nordeste



PCdoB – teve 5 parlamentares influentes, 2 são do Nordeste



PPS – teve 2 parlamentares influentes, 1 são do Nordeste



PSol – teve 2 parlamentares influentes, 1 são do Nordeste





ESTADOS – Outro dado interessante a ser observado na pesquisa é que os estados mais desenvolvidos da região são justamente os que têm mais políticos influentes. Pernambuco aparece em primeiro lugar, com 11 parlamentares dentre os cabeças, seguido da Bahia e do Ceará. O Piauí e o Maranhão não tiveram nenhum parlamentar indicado como influente no Congresso. Na Bahia percebe-se uma grande influência dos políticos do PFL. O partido, no geral, tem representação em todos os estados nordestinos. Segue abaixo a lista dos indicados mais influentes por cada estado.



Pernambuco (11)



Fernando Ferro (PT)

Maurício Rands (PT)

Marco Maciel (PFL)

Roberto Magalhães (PFL)

Sérgio Guerra (PSDB)

Armando Monteiro (PTB)

José Múcio Monteiro (PTB)

Eduardo Campos (PSB)

Inocêncio Oliveira (PL)

Renildo Calheiros (PCdoB)

Roberto Freire (PPS)



Bahia (7)



Walter Pinheiro (PT)

Antônio Carlos Magalhães (PFL)

Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL)

José Carlos Aleluia (PFL)

Rodolpho Tourinho (PFL)

Jutahy Junior (PSDB)

Geddel Vieira Lima (PMDB)



Ceará (5)



José Pimentel (PT)

Bismarck Maia (PSDB)

Tasso Jereissati (PSDB)

Eunício Oliveira (PMDB)

Inácio Arruda (PCdoB)



Rio Grande do Norte (4)



José Agripino (PFL)

Ney Lopes (PFL)

Henrique Eduardo Alves (PMDB)

Fernando Bezerra (PTB)



Alagoas (4)



José Thomaz Nonô (PFL)

Renan Calheiros (PMDB)

João Caldas (PL)

Heloísa Helena (Psol)





Paraíba (3)



Efraim Morais (PFL)

Ney Suassuna (PMDB)

Inaldo Leitão (PL)



Sergipe (1)



Antonio Carlos Valadares (PSB)



NORDESTE – Apesar da grande representação dos parlamentares nordestinos na lista dos mais influentes, representando 35 % do indicados pela pesquisa, o Nordeste continua sendo a região mais pobre e com os índices mais baixos de desenvolvimento humano e escolaridade do país. Alguns dos nordestinos indicados entre os ‘100 Cabeças’ relataram sua avaliação sobre a articulação entre os parlamentares para diminuir as desigualdades regionais. Segue abaixo alguns relatos cedidos a Política Real:





Renildo Calheiros (PCdoB-PE)



“ No parlamento brasileiro, se nós analisarmos em todos os períodos, há um destaque muito grande para a bancada do Nordeste. Não sei se é porque o nordestino luta sempre com mais dificuldade, ele tem sempre que ultrapassar mais obstáculos. Mas na verdade a média do parlamentar nordestino é acima da média nacional. É comum na historio do nosso parlamento, inclusive, a Câmara ou o Senado serem presididos por nordestinos, o que mostra um certo talento político do nordestino. Eu acho que isso é fruto da luta contra as adversidades que o nordestino sempre teve”.



“O poder legislativo, não é propriamente o local mais adequado para que a questão da desigualdade regional seja resolvido. Para que a desigualdade regional seja resolvida nós precisamos de um poder central forte, por mais paradoxal que isso possa parecer. Um poder central pode realizar grandes investimentos nas regiões sem recursos próprios para fazer esses investimentos. Se você não tiver um poder central forte com capacidade de investimento e que resolva enfrentar a questão da desigualdade ela jamais será superada. Mas eu penso que nós estamos amadurecendo isso no Brasil. O próprio presidente Lula deu uma grande contribuição. Os presidentes da República sempre falaram do desenvolvimento do Nordeste, mas nunca fizeram. Eu lembro quando o presidente Figueiredo tomou posse ele declarou uma frase famosa, em que disse que “o Brasil nunca seria rico enquanto o Nordeste fosse pobre”. Mas não passou da frase. O presidente Sarney, tentou no seu governo construir a Transnordestina, que é uma obra de infra-estrutura muito importante para o desenvolvimento da região. Mas não conseguiu implantar a obra. Agora o presidente Lula retoma a obra da Transnordestina, da questão da transposição do Rio São Francisco, começou a duplicar a BR 101 no Nordeste. O estado de Pernambuco vai ter uma refinaria de petróleo. Então, começa a existir um certo esforço no sentido de dotar a região de infra-estrutura. E ela é necessária para que você possa ir atrás de grandes investimentos.



João Caldas (PL-AL)





“Há algum tempo já que eu sou avaliado pela imprensa como um deputado atuante. Esse título é bom não apenas para o meu mandato como para o meu estado. É o segundo ano consecutivo que meu nome aparece na lista do Diap, como os 100 mais influentes. E você veja que dentre os nordestinos quatro são alagoanos. Esse número dá peso na hora da discussão de algumas questões, e principalmente na decisão. Mas acho que ainda falta unidade da bancada dos nordestinos. Acho que ainda não há uma consciência da força política da região. Mas eu não sou muito separatista não, como parlamentar acho importante a implantação de uma política global”.





Inácio Arruda (PCdoB-CE)





“O número de 35 parlamentares nordestinos numa lista de 100 reflete o impacto de algumas políticas de infra-estrutura que houveram nos últimos três anos. Um dos programas mais importantes do atual governo, é por exemplo a Transnordestina. Uma segunda grande obra que está paralisada apenas por causa de uma liminar, é o problema da interligação de bacias do Nordeste Setentrional com o Rio São Francisco. No Brasil nós temos várias interligações de Bacias, como o caso do Rio de Janeiro, na região metropolitana da capital e em São Paulo. E isso não causou nenhum impacto emocional naquela região. E no Nordeste tem causado. Esse impacto é político. E um terceiro projeto é da refinaria de Pernambuco e da siderúrgica do Ceará. O Ceará não tem ferro nem gás, mas tem uma siderúrgica já instalada, em construção, que vai processar minério de ferro e funciona a gás. Então é um investimento que envolveu a discussão da bancada. Como coordenador da bancada posso dizer que temos discussões as vezes ásperas com o governo, apesar de se rum governo de muito diálogo, mas as vezes é um diálogo duro. . Nos reunimos com Ministério da Fazenda, Ministério do Planejamento, com coordenação de atuação política, com o presidente Lula e com a Petrobrás. E as bancadas participaram desse diálogo. No caso do ceará, tivemos uma atuação ativa, não ficamos a espera de que a questão fosse resolvida. Fomos diretamente participar da discussão. E um outro projeto importante, de beneficio para o Nordeste brasileiro foi o projeto do Biodiesel. Teve um esforço de diversos parlamentares nordestinos. O envolvimento dessa bancada diretamente com ações desse porte permitiram que ela criasse 35 dos 100 parlamentares mais influentes do Congresso Nacional”.



José Agripino (PFL-RN)



“Não há nenhuma razão especial de ordem regional para que 35 % mais influentes sejam nordestinos. È claro que a região Nordeste por ser uma região culturalmente estruturada mas do ponto de vista econômico frágil, influencia o sentimento de reação política às injustiças. Os nordestinos, portanto, são políticos adestrados no campo da luta política Mas não justifica, pois a região tem talentos como as outras regiões”.



“No regime parlamentarista o número de parlamentares chegar 35 % não é suficiente para você mover definições administrativas. No regime parlamentarista sim. No presidencialista não. A força política do Nordeste não é suficiente para conduzir políticas para região. Se estivéssemos em um regime parlamentarista teríamos uma conseqüência prática dessa representação dos nordestinos”.



( por Liana Gesteira com edição de Genésio Araújo Junior)

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