Câmara e Bancada do Nordeste realizam hoje seminário sobre biodiesel; Ariosto Holanda, relator do tema Biodiesel e Inclusão Social no Conselho de Altos Estudos e Avaliação Tecnológica da Câmara, destaca a importância do papel deste combustível na matriz energética brasileira que – avalia – “pode promover o resgate da cidadania no meio rural”.

( Brasília-DF,05/05/2006) Nesta quarta-feira a Câmara Federal e a Bancada do Nordeste estão realizando um seminário “Biodiesel – Combustível para a Cidadania”. Confira uma entrevista com o deputado Ariosto Holanda( PSB-CE), relator do biodiesel no Comitê de Altos Estudos da Câmara Federal:





1) Qual a expectativa do deputado em relação ao seminário?







É preciso aumentar a conscientização da classe política para a

necessidade de o Brasil apostar em energias alternativas. Diversos instituições têm ação no biodiesel mas falta um órgão central que organize uma política central de estado para coordenar o que está sendo feito. No cenário

atual dos próximos 40 anos, o petróleo deverá chegar a índices de

escassez mundial. Tocar o programa de biodiesel é uma decisão

estratégica para o País, mas também de peso político. As ações

precisam ganham mais agilidade. É necessária uma

agilização para que o acesso às linhas de crédito nos bancos oficiais

possibilite uma fonte de renda estável ao pequeno produtor da

agricultura familiar, sobretudo no Nordeste semi-árido. Não podemos

deixar que se reproduza com o biodiesel o que aconteceu com o

Pro-Álcool, que ficou concentrado nas grandes usinas. O pequeno tem

que ter vez no biodiesel tanto na produção de oleagionosas – a mamona,

dendê, babaçu, pinhão manso e soja -, como na transformação em óleo e

em biodiesel, em pequenas usinas por meio de consórcio de associações

de agricultores, para adensar a renda no campo e fazer a inclusão

social.







2) Que ganhos de ordem ambiental ele identifica com o uso do biodiesel?





O Brasil precisa – e pode – ter uma matriz energética diversificada.

No contexto atual, a energia de origem fóssil (petróleo, gás, carvão),

de efeitos poluidores, está sendo aos poucos substituída por energias

limpas de fonte solar, eólica e biomassa.



O biodiesel permite que se estabeleça um ciclo fechado de carbono no

qual o monóxido de carbono (CO2) é absorvido quando a planta cresce e

é liberado quando o biodiesel é queimado na combustão do motor.



Um estudo conjunto do Departamento de Energia e do Departamento de

Agricultura dos Estados Unidos, mostra que o biodiesel reduz em 78% as

emissões líquidas de CO2.



Nos Estados Unidos, o consumo de combustíveis fósseis em veículos

automotores são responsáveis pela emissão de 67% de CO2; 41% dos

óxidos de nitrogênio (NOx); 51% dos gases orgânicos reativos; 23% dos

materiais particulados e 5% do dióxido de enxofre (SO2).



Estudos realizados pelo Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias

Limpas (Ledtel), da USP, mostram que a substituição do óleo diesel

mineral pelo biodiesel resulta em redução de emissões de 20% de

enxofre; 9,8% de anidrido carbônico; 14,2% de hidrocarbonetos não

queimados; 26,8% de material particulado e 4,6% de óxido de

nitrogênio.



Os benefícios ambientais podem gerar vantagens econômicas para o

Brasil, que poderia enquadrar o biodiesel nos acordos estabelecidos no

protocolo de Kyoto e nas diretrizes dos Mecanismos de Desenvolvimento

Limpo (MDL). Existe portanto a possibilidade de venda de cotas de

carbono por meio do Fundo Protótipo de Carbono (PCF) pela redução das

emissões de gases poluentes e, também, de créditos de seqüestro de

carbono, por meio do Fundo Bio de Carbono (CBF), administrado pelo

Banco Mundial.



O Japão, Espanha, Itália, países do Norte e Leste europeus, têm

demonstrado interesse em produzir e importar biodiesel, especialmente

pela motivação ambiental. Na União Européia, a legislação de meio

ambiente estabeleceu para 2005 a meta de consumo de 2% de energias

renováveis e de 5% em 2010.



A matriz energética brasileira é uma das mais limpas do mundo. Em

2001, 35,9% da energia fornecida no Brasil é de origem renovável. No

mundo, esse valor é de 13,5%, enquanto nos Estados Unidos é de apenas

4,3%. São países que terão de fazer um enorme esforço de introdução do

álcool e do biodiesel nas suas matrizes energéticas, pois eles são os

grandes poluidores do planeta.







3) Os programas de financiamento agrícola e industrial e

comercialização estão em que estágio?





Em 2004, o presidente Lula, preocupado com a inclusão social do

programa Biodiesel, assinou o decreto Nº.5297 /2004 que cria condições

de financiamento especiais para as regiões mais pobres. O decreto

estabelece a definição de coeficientes de redução das alíquotas da

Contribuição do PIS/Pasep e da Cofins, incidentes na produção e na

comercialização de biodiesel e os termos e as condições para a

utilização das alíquotas diferenciadas por região e por matéria prima.



Cria também o selo “combustível social”, que será concedido ao

produtor de biodiesel que promover a inclusão social dos agricultores

familiares enquadrados no Programa Nacional de Fortalecimento da

Agricultura Familiar – Pronaf, que lhe forneçam matéria-prima;



Os marcos legais se complementam com regulamentação da ANP, publicada

no Diário Oficial da União de 9 de dezembro de 2004, que estabelece a

especificação do biodiesel e a estrutura da cadeia de produção,

distribuição e comercialização desse combustível para uso comercial em

todo o país.



Têm havido avanços no campo industrial por grandes grupos privados que

visualizam a oportunidade do negócio energético no mercado interno e

para exportação. Mas no aspecto social, esta grande oportunidade para

o País ainda está por ser melhor aproveitada como um grande programa

massivo.





4) Quando ele prevê que o Brasil esteja operando em plena capacidade

como produtor de biodiesel?





Temos menos de dois anos para efetivar a nossa produção, de modo a

atender o suficiente para abastecer o mercado interno com a adição dos

2% de biodiesel ao diesel mineral, que em 2008 será obrigatória.





5) Coloque qualquer outra informação que julgar importante.





O Conselho de Altos Estudos e Avaliação Tecnológica da Câmara realizou

em 2004 uma ampla discussão sobre a viabilidade sócio, técnica e

econômica do biodiesel e chegou a resultados extremamente promissores.

A sistemática dos trabalhos que o Conselho adotou permitiu a

aproximação do Parlamento com a academia e com o executivo na busca

não só de identificar o estado da arte da tecnologia envolvida no

processo de produção desse diesel vegetal, como de encontrar os

caminhos da inclusão social pela geração de trabalho e distribuição

de renda.



Um amplo debate foi estabelecido com engenheiros, professores,

pesquisadores, inventores, empresários e a sociedade em geral, que

direta ou indiretamente estavam interessados na aplicação de óleos

vegetais como combustível de motores diesel. Foram, na ocasião,

destacadas como externalidades positivas do programa biodiesel a

substituição de importação, os benefícios ambientais e a inclusão

social pela geração de emprego. Daí resultou o livro “Biodiesel e

Inclusão Social”.



Um histórico das ações:



1. Na conclusão dos trabalhos do tema Biodiesel, o Conselho, que é

composto por 12 deputados indicados pelos diversos partidos, deu

entrada ao projeto de lei 3368 para regulamentar a adoção do biodiesel

no País.



2. Nos dias 13 de janeiro de 2005 e 18 de maio de 2005, o governo

federal editou dois projetos de lei, resultantes de duas medidas

provisórias, antecipando-se ao PL proposto pela Câmara.



2.1 Por isso, tornou-se obrigatória a mistura de 2% de biodiesel ao

diesel do petróleo a partir de 2008 e de 5% a partir de 2013, podendo

ser diminuídos esses prazos. A ANP torna-se a agência reguladora do

biodiesel na distribuição, controle, mistura, especificações e outras.



( da redação com especial de Flamínio Araripe)

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