Bancada do Nordeste. Vice-presidente da FIEC diz que é preciso que o Sudeste encare o Nordeste como mercado

( Publicada originalmente às 22h 01 do dia 08/08/2013)



(Brasília-DF, 09/08/2013) O vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), Carlos Prado, que participou da reunião da Bancada do Nordeste, nesta quarta-feira, 8, informou que nasceu em Marília-SP e vive no Nordeste há 40 anos.



Prado iniciou a atividade econômica fabricando máquinas agrícolas, a convite do então governador Cesar Cals. A fábrica, inclusive, completa dia 13 de agosto os 40 anos. Ele defende uma nova maneira de o Nordeste ser visto pelas demais regiões.



MAMÃO COM REDE – O vice-presidente da FIEC Prado iniciou sua palestra contando um caso de sucesso interessante do Nordeste.



“Nesses 40 anos, tivemos projetos na área de semiárido produzindo melões que os senhores encontram nas bancas de supermercados, em envolto em uma redinha, que é o mais caro que vocês encontram no supermercado, mas o custo também é elevado. Isso é produto do semiárido, do Ceará, do Centro Sul do Piauí, Canto do Buritis, do semiárido da Bahia, Ribeira do Amparo”, contou Prado.



Ao citar Ribeira do Amparo, fez questão de informar uma peculiaridade sobre o município.



“São mais de 400 municípios na Bahia e Ribeira do Amparo é o 12º de baixo para cima em termos Índice de Desenvolvimento Humano. E é nessas regiões pobres, miseráveis em termos de desenvolvimento, é de lá que sai esse produto que eu dei como referência aqui. Daí que sai a vivência para saber como é o Nordeste nas capitais e nesse interior tão falado”, destacou.



NASCEDOURO – O vice-presidente da FIEC em seguida contou como surgiu a iniciativa de criar o Integra Brasil.



“Depois de assistir muitos seminários para tratar desenvolvimento do Nordeste, que terminavam em alguns relatórios e se findavam aí. Foi a partir daí dessa iniciativa do Centro Industrial do Ceará que se resolveu a mobilização da sociedade produtiva principalmente e de toda a sociedade que viesse se dispor a brigar é que se começou um trabalho de debate com workshops sendo realizados em algumas capitais, como Recife, Salvador, Fortaleza, preparatórios para realização de um seminário que será realizado no final deste mês em Fortaleza”, pormenorizou Prado.



PIB PER CAPITA – O experiente líder industrial demonstrou inconformismo com o tal PIB per capita nordestino.



“Não é possível que uma região permaneça mais de 70 anos com um PIB per capita menor que 50% da média do PIB per capita nacional. Eu fico indignado com uma situação dessa, principalmente depois de criação de Banco do Nordeste, de Codefasf, Sudene, Chesf e de várias instituições que foram criadas para desenvolver o Nordeste. Depois dessas tentativas, a Constituição de 1988 prendeu a distribuição dos recursos mediante ao critério populacional”, relembrou.



De acordo com a Constituição o Nordeste tem direito a receber 28% de todo o recurso que depende de deliberação do Governo Federal.



“A partir do BNDES, por exemplo, ele distribui 13,5% dos recursos para o Nordeste quando poderia ser 28%. Sem falar em outros números que temos a respeito. Na dívida pública por regiões, o Sudeste tem 68%, enquanto o Nordeste tem 7,4%, com 28% da população”, argumentou Prado.



INTEGRAÇÃO – Segundo o vice-presidente da FIEC, a integração passa pelo pacto federativo, que vem sendo discutido recentemente, com estudos de novas propostas.

“Nas trocas comerciais entre as regiões, o Nordeste tem déficits comerciais com o Sudeste, com São Paulo, destacadamente, com o Sul e o Centro-oeste. É interesse só do Nordeste que ele se desenvolva, ou é interesse do Brasil que o Nordeste passe a ser uma solução para a integração nacional? Se o Nordeste tem um grande déficit comercial e responde pelo superávit do Sudeste em termos comerciais, então o Nordeste é um grande mercado para o Sudeste do Brasil. Não tem empresário, comerciante ou industrial que não valorize o seu cliente, o seu mercado”, argumenta.



E continua:



“Então, é preciso que o Sudeste passe a encarar o Nordeste pelo menos como mercado. Mercado para onde ele manda os seus automóveis, por exemplo, carregado com uma carga de impostos que os senhores parlamentares vem discutindo constantemente aqui. Se o produto vem carregado com uma carga de impostos, o Nordeste está comprando automóvel e impostos. Impostos que a mídia coloca depois como sendo uma arrecadação do Sudeste. Mas, na verdade é o Nordeste que está pagando”, justifica.



NORDESTE BANCA – Prado criticou ainda, durante sua palestra, que na mídia se lê sobre os recursos remetidos para o Nordeste através de instituições financeiras, linha de crédito entre outras.



“Saibam os senhores, que quando se faz um depósito numa conta bancária no Nordeste, hoje, quando a maioria dos bancos tem a sua matriz no Sul, no momento em que a gente, como pessoa física ou jurídica, faz um depósito, imediatamente ele é transferido para a matriz no Sul. E passa a ser um recurso de depósito do banco no Sul”, explicou.

Já, em contrapartida, quando esses bancos fazem seus empréstimos para o Sul, segundo Prado:

“Nunca é numa proporção razoável em relação aos depósitos. Então, a diferença entre o que o Nordeste manda, como depósito, e o que ele recebe, como empréstimo, segundo um analista do Banco do Nordeste, equivale quatro vezes e meio o FNE”, revelou.



E disse, Prado, indignado:



“Enfim, é o Nordeste financiando o restante do Brasil. É um absurdo total.”

Prado comenta o trabalho da equipe do Integra Brasil, que se sensibilizou e começou um trabalho de “formiguinha” para levantar dados que já existem, é só garimpar.



“Nós estamos vendo que o Nordeste tem vários valores a serem negociados que tem que ser colocados na mesa e tem que servir de matéria-prima para uma nova abordagem”, destacou.

A conclusão do trabalho se dará com a realização do seminário onde se elaborará a matéria-prima para que os parlamentares tenham elementos vindos da sociedade para trabalhar de forma parlamentar as soluções que o Nordeste precisa.



PRIMEIRO PASSO – “Sabemos que talvez a gente não venha a conseguir fazer um grande movimento numa primeira etapa. Mas o que nós precisamos, segundo Mao Tse

Tung: ‘uma grande marcha começa com o primeiro passo’. Se nós sensibilizarmos algumas boas cabeças, essas que começam a pensar o Nordeste de uma forma diferente nós estaremos no bom caminho”, citou.



Prado lembrou o caso da União Europeia, que quando um país a integra o PIB per capita é elevado em dois, três anos. E citou Romênia, que entrou em 2007, com 26% em 2000, já tem em 2011, 49% de PIB per capita.



“Isso mostra que o caminho é eliminar desigualdades se quiser manter a união. Nós não teremos um país unido, se nós não revertermos esse quadro. São Paulo, o Sudeste, não contará mais com esse mercado se essa desigualdade não for reduzida. Nós temos que mostrar para o restante do Brasil que eles têm que se preocupar com a manutenção do seu mercado cativo, que é essa região”, finalizou.



(por Maurício Nogueira, especial para a Política Real, com edição de Genésio Jr.)

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