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Deputado federal Daniel Almeida (PCdoB-BA) avalia investimentos petrolíferos feitos no Nordeste; O entrevistado ainda discorre sobre disputa política para eleição estadual na Bahia.
14/07/2006 – 15:17h – Por Liana Gesteira com GAJr.
( Brasília-DF, 14/07/2006) O Brasil tem desenvolvido o seu potencial na área de energia renovável e não-renovável. A Petrobrás atingiu a auto-suficiência na produção de petróleo. Além disso, outras fontes energéticas como o álcool, o gás natural e o biodiesel têm recebido incentivos, criando alternativas do setor energia do país.
Em uma entrevista especial, o deputado federal Daniel Almeida (PCdoB-BA), fez uma análise da produção petrolífera no Nordeste, ressaltando o investimento feito pela Petrobrás na região. “O próprio fato de a nova refinaria ir para Pernambuco demonstra uma atenção da empresa em descentralizar investimento e induzir o crescimento econômico”, disse o parlamentar destacando outras iniciativas como a modernização da refinaria Landulfo Alves na Bahia, a expansão da produção de petróleo em Sergipe e Rio Grande do Norte e a revitalização de poços maduros.
Segundo Almeida, a região Nordeste tem conseguido se inserir em investimentos feitos em outras fontes de energia como o gás natural, que vem sendo produzido no Rio Grande do Norte e Sergipe e principalmente na produção de matéria-prima para o biodiesel. “Os leilões que foram feitos para a aquisição de biodiesel teve participação forte do Nordeste. As empresas da região se apresentaram com grande força de compra nesses leilões. Portanto é algo que vai ter retorno, pelo ganho para o meio ambiente e para diversificação da matriz energética brasileira”, disse durante entrevista.
Apesar de ter uma trajetória política curta, estando em seu primeiro mandato federal e com um mandato de vereador em Salvador, o deputado faz uma análise da disputa política em seu estado. “O que nós estamos percebendo é que esse modelo construído pelos Carlistas na Bahia está visivelmente esgotado. É evidente que esse modelo que eles adotam produz um modelo muito desigual, injusto para a maioria dos baianos”, declarou o parlamentar argumentando que candidatura de Jaques Wagner (PT) para o governo do estado é forte.
O entrevistado ainda buscou apontar fragilidades no discurso da oposição ao governo federal, em declarar que a Bahia está sendo retaliada, sem os investimentos necessários. “O problema central é que antes, o grupo político que comanda a Bahia anunciava que esses investimentos do governo federal eram do governo no estado”, afirma Daniel Almeida. Segue abaixo a entrevista na íntegra.
Como você avalia o investimento no Nordeste na área de petróleo?
A Petrobrás sempre teve uma presença muito forte no Nordeste, principalmente na Bahia. Lá foi descoberto o primeiro poço de petróleo, chamado ‘Lobato’. Tem também a refinaria ‘Landulfo Alves’ na Região metropolitana de Salvador. A Bahia sempre foi um grande produtor de petróleo, e como em várias partes do Brasil, sofreu uma certa estagnação na última década. Agora vemos uma retomada do investimento da Petrobrás na área de produção e refino. Esse investimento está levando um grande grau de desenvolvimento para o Nordeste. A refinaria Landulfo Alves, por exemplo, está se modernizando, ampliando sua capacidade de refino e buscando refinar produtos mais adequados para o mercado atual. Também vemos investimentos da Petrobrás na área petroquímica, buscando parceria na iniciativa privada. O pólo petroquímico vive uma fase de crescimento e modernização. Há também a refinaria que está sendo instalada em Pernambuco, que vai dinamizar a industria petroquímica no Estado, e causando impacto para outros estados do Nordeste. Existe ainda uma expansão da produção do petróleo no Rio Grande do Norte e em Sergipe. Outro ponto importante é o investimento na área de gás. No caso da Bahia, o projeto Camaçai, que fica na Bacia de Camambu, vai duplicar a oferta de gás no Estado. Outros investimentos estão sendo direcionados para Sergipe e Rio Grande do Norte também. Podemos ainda comemorar algumas novidades, como a possibilidade de encontrar Petróleo na Bacia do São Francisco, mais para perto da região de Minas Gerais. Há também um grande esforço de revitalização dos poços maduros da Bahia, que deixaram de ser explorados, mas com as novas tecnologias voltam a produzir. A produção de petróleo nos poços maduros tendem a aumentar e traz grande benefício para Bahia. Esses investimentos feitos pela Petrobrás causam impacto na vida econômica e social do Nordeste.
Como você avalia os investimentos feitos no Nordeste comparando com o resto do país?
É obvio que a Bacia de Santos atraiu mais investimentos, porque é responsável em prover boa parte do petróleo produzido no Brasil hoje. É uma reserva imensa, portanto é muito natural que haja um esforço de extrais mais rapidamente petróleo daquela bacia. Mas o Nordeste não pode reclamar. O próprio fato da refinaria ir para Pernambuco demonstra uma atenção da empresa em descentralizar investimento e induzir o crescimento econômico.
E na área das novas energias? O Biodiesel tem se tornado uma alternativa para o desenvolvimento da região, mas ainda existem pesquisas para viabilização da produção no Nordeste. Você acha que é um projeto a ser pensado em longo prazo?
Temos sempre que fazer investimento na área de pesquisa, e de desenvolvimento tecnológico. A própria Petrobrás se destaca por isso, por acreditar sempre na inovação, em novos conhecimentos, novas tecnologias. O Biodiesel ainda é uma tecnologia a ser melhorada e desenvolvida. Tanto na produção de sua matéria-prima, como a mamona, o dendê, o algodão, que o Nordeste pode produzir e a própria soja que parte do Nordeste já produz. Especialmente a produção de matéria-prima que vem da agricultura familiar. Nessa caso, a mamona tem papel fundamental, assim como o pinhão-manso. Essa estrutura ainda está sendo criada, mas enquanto isso o projeto não pode parar. Há previsão de mistura de 2% de biodiesel no diesel para 2007. A tendência é ampliar, indo para 4 %. Os leilões que foram feitos para a aquisição de biodiesel teve participação forte do Nordeste. As empresas da região se apresentaram com grande força de compra nesses leilões. Portanto é algo que vai ter retorno, pelo ganho para o meio ambiente e para diversificação da matriz energética brasileira. E a Petrobrás tem sido uma parceira muito forte, fazendo investimento de pesquisa, em parceria com os estados, prefeituras, a Embrapa e outras empresas. Está inclusive havendo uma instalação de uma fábrica em Candeias para processar o óleo extraído da matéria prima produzida na Bahia e no Nordeste. Eu acredito muito numa frase que Lula costuma dizer: “O Brasil vai ensinar o mundo a plantar petróleo”. Ou seja, a energia renovável é o grande filão de crescimento da produção de energia no mundo e o Brasil tem todas as condições de ter um grande papel nisso. Aliás, a Petrobrás, em seu plano estratégico leva isso em conta, desenvolvendo a produção de produtos oriundos do petróleo, mas, cada vez mais, se assume como uma empresa de energia.
O governo estadual da Bahia, representado por Paulo Souto (PFL), tem constantemente proferido o discurso de que o governo federal não investe no Estado. Qual a opinião do deputado neste assunto?
Grande parte disso vem do baixo nível da política na Bahia. O desenvolvimento na Bahia sempre foi muito vinculado ao petróleo. A refinaria Landulfo Alves, que foi instalada na década de 70, foi um marco no desenvolvimento na Bahia. Depois teve o centro industrial de Aratu, que fica na Região Metropolitana, também estava vinculado a industria do petróleo, a extração e refinaria do petróleo. Além disso, o pólo petroquímico está vinculado a este setor. A industria automotiva também está ligada a isso. Agora está se falando na instalação do pólo têxtil. Se você pensar existem muitos projetos desenvolvidos na Bahia, com parceria com governo federal, principalmente no vale do São Francisco, no Oeste, no extremo sul desenvolve-se um pólo de celulose, tudo com a participação do governo federal. E essa participação nunca deixou de acontecer. O problema central é que antes, o grupo político que comanda a Bahia anunciava que esses investimentos do governo federal eram do governo no estado. E às vezes manipulavam, desviavam parte desses recursos. Esses recursos ficavam muito concentrados, e não promoviam o equilíbrio de desenvolvimento em todo estado da Bahia. Agora, a parceria foi ampliada, e o governo federal passou a fazer política pública em lugares que o governo estadual sempre abandonou. Como a eletrificação rural que o governo federal faz com muita força no estado da Bahia, que tem uma recepção muito grande. Os programas sociais, como o Bolsa-família. O estado da Bahia recebe o maior volume e isso tem um grande impacto para a população. Os investimentos na área de saneamento que muitas vezes são feitos em parcerias do governo federal diretamente com prefeituras. O governo do estado fica irritado porque o governo estadual gostaria que os recursos fossem para ele e que repassasse de acordo com o seu critério. Eles não gostam desse modelo. Mas no fundo o que tem havido é uma ampliação do investimento do governo federal, abordando principalmente a carência social, muito forte na Bahia. Não há menor dúvida que essa disputa não tem conteúdo, não tem como eles comprovarem.
Como você avalia a atuação dos parlamentares em busca de diminuir a desigualdade do Nordeste entre o resto do país?
Existem ainda muitas coisas a serem feitas para diminuírem as desigualdades regionais. O Brasil sempre foi um país muito desigual nas relações intra-regionais. E o Nordeste sempre foi muito esquecido, no sentido de que ele precisa se desenvolver para que o Brasil tenha um projeto de nação. A Nação se constitui com um mínimo de igualdade. O Brasil tem essa dívida com o Nordeste. Muitas iniciativas foram feitas no passado e foram abandonadas no meio do caminho. Esse governo está tentando recompor essa estrutura macro de desenvolvimento no Nordeste. Alguns exemplos são a refinaria que está sendo implantada em Pernambuco agora; o debate sobre a transposição do Rio São Francisco, a Transnordestina que volta a ser feita, a Sudene foi desinstalada no governo passado e agora volta a ser ressuscitada. O projeto da Sudene está paralisado porque não interessa a muita gente. O próprio Banco do Nordeste eles queriam privatizar, e nesse governo se recompõe, concedendo crédito público. O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal começam a dirigir seus créditos mais para agricultura familiar e saneamento. Acho que o Nordeste tem grandes líderes, mas não conseguimos utilizar esse prestigio para tratar de coisas macro, de ações mais abrangentes. As discussões se voltam para coisas miúdas. Eu lembro que quando estávamos tentando votar o orçamento deste ano, a matéria quase não foi votada porque se discutia R$ 80 milhões para se construir uma ponte ligando duas comunidades de Sergipe. Por mais importante que seja esse projeto, não se pode polarizar um debate nacional em torno de uma questão assim. Isso revela a mesquinhez de algumas lideranças no Nordeste, que não enxerga essa abordagem macro. Por exemplo, o BNDES que é uma das principais instituições financeiras de promoção do desenvolvimento do país, quase não investe no Nordeste. Se, por exemplo, nós tivéssemos uma diretoria do Nordeste no BNDES, nós poderíamos ter políticas especiais, voltadas para as especificidades daquela região. As lideranças políticas do Nordeste não têm tratado devidamente dessa questão.
Como será a disputa política na Bahia nas próximas eleições?
É uma eleição polarizada. Nós tivemos uma polarização em 1986, onde de um lado tinha as forças ‘Carlistas’ e de outro a oposição que se unificou para eleger Valdir Pires governador. Desde então, com o processo de transição, o Valdir Pires não emplacou e a Bahia voltou a ser controlada por uma única força política, que tem três senadores aqui no Congresso Nacional, tem a maior bancada, já elegeu quatro governadores na Bahia. Agora há mais uma polarização. De um lado as forças ‘Carlistas’ e de outro lado há um segmento de polarização em torno da candidatura de Jaques Wagner. A eleição deve ser definida no primeiro turno. O que nós estamos percebendo é que esse modelo construído pelos Carlistas na Bahia está visivelmente esgotado. O líder principal apresenta debilidade no comando do partido dele, no poder que tinha sobre o judiciário e sobre as estruturas econômicas. Está esgotado porque não tem a mesma relação com o governo federal. É a primeira vez que o Carlismo está na oposição, por isso demonstram tanto ódio, essa postura raivosa. Eles sempre estiveram com o governo, seja que governo fosse. É evidente que esse modelo que eles adotam produz um modelo muito desigual, injusto para a maioria dos baianos. É uma fadiga natural pelos elementos que esse poder apresentou. E a política do governo federal está com muita força no estado. Os baianos percebem a diferença, e os benefícios sociais desse novo governo.
( Por Liana Gesteira com coordenação de Genésio Araújo Junior)