Nordeste e Biodiesel.
Coordenador adjunto da Bancada traça estratégia de ação com o Fórum de Pró-Reitores de Pesquisa e Pós-Graduação do Nordeste ; Deputado Ariosto Holanda deu palestra ontem em Fortaleza.

( Brasília-DF, 20/06/2006) O deputado federal Ariosto Holanda (PSB-CE), coordenador adjunto da Bancada do Nordeste deu palestra nessa segunda-feira,19 sobre o tema “Biodisel e a Inclusão Social”, em reunião do Fórum de Pró-Reitores de Pesquisa e Pós-Graduação do Nordeste (Foprop), realizada na Uece, em Fortaleza. No encontro, o deputado

conclamou os pró-reitores de Pesquisa a envolverem também os de

Extensão num esforço das Universidades para que o Nordeste seja

beneficiado com o programa nacional de biodiesel.



“O programa do biodiesel está acontecendo no país, mas existem ameaças

muito fortes de que, enquanto inclusão social, não aconteça no

Nordeste, que podia ser a região mais beneficiada”, disse Ariosto. O

deputado observou que o programa não avançou na região. Como exceções,

citou o Piauí, que tem uma empresa produzindo, a EcoDiesel, e destacou

as mini-usinas que serão implantadas e as usinas da Petrobras

projetadas para a Bahia, Minas Gerais e Ceará.



Do leilão mais recente da ANP de 400 milhões de litros, segundo ele,

só participaram grandes empresas do Centro Sul do país. “O grupo da

soja está avançando. É um pessoal mais organizado”, assinalou. Para o

deputado, esta situação exige uma ação das Universidades no Nordeste

em extensão, pesquisa, educação e gestão.



Na área da pesquisa, o parlamentar cearense disse que os desafios do

biodiesel são a melhoria da produtividade e o desenvolvimento de

variedades de mamona que não tenham toxidade. Como a ricina da mamona

é tóxica, alguns pequenos criadores evitam o plantio temendo pelos

animais. “Sinto a falta da Universidade nesta questão temática. Ela

não pode ficar ausente desse processo. Pelo andar da carruagem, se

ficar só na lei de mercado, estamos perdidos”, desabafou.



Ariosto argumentou que as mini-usinas, com capacidade para produção de

100 litros de biodiesel por dia, podem gerar emprego para 200 a 300

famílias cada uma com o plantio de 600 hectares de mamona. Segundo o

deputado, a Universidade pode apoiar as comunidades rurais com ação de

ensino e transferência de conhecimento na produção e gestão das

mini-usinas.



Está agendada para o dia 30 a inauguração da mini-usina de Tauá, pelo

Dnocs e Instituto Centec, com recurso de emenda do deputado, via MCT.

No ato, estão previstas as presenças dos ministros Patrus Ananias, do

Desenvolvimento Social e Combate à Fome, e Pedro Brito, da Integração

Nacional. “A idéia do evento é demonstrar que as mini-usinas podem ser

muito bem implantadas e operadas pelas comunidades mais pobres, pela

agricultura familiar”, explica Ariosto.



“Vamos demonstrar o funcionamento de uma usina a partir da mamona que

está plantada lá, envolvendo o esmagamento da semente, a extração do

óleo e a transterificação, até o produto final, o biodiesel. O produto

terá aplicação imediata no local, em motores diesel de trator,

caminhonete e ônibus.



O deputado informa que outra mini-usina será inaugurada em julho, em

Piquet Carneiro. Para demonstrar que a tecnologia é viável, conta que

também colocou emenda no orçamento deste ano para novas unidades em

Limoeiro do Norte, Itapipoca e Russas.



Ariosto se colocou à disposição do Fórum de Pró-Reitores para

encaminhar à Câmara os projetos de pesquisas do segmento via Bancada

do Nordeste, que todo ano coloca emendas para pesquisa e extensão.

Como exemplo, contou que foram aprovados no ano passado R$ 7,5 milhões

para a Rede Nordeste de Biotecnologia (Renorbio), e este ano quase R$

5 milhões para os Centros Tecnológicos.



O deputado concitou os pró-reitores de pesquisa e pós-graduação a

pensarem uma ação integrada de extensão e pesquisa para, em outubro e

novembro, quando se darão as emendas, apresentarem os seus projetos.

Ele assegurou que vai procurar viabilizar as emendas junto com os

demais deputados da região, a serem contatados pelos pró-reitores.



O presidente do Fórum no Nordeste, José Ferreira Nunes, pró-reitor de

Pós-Graduação e Pesquisa da Uece, disse que será promovida uma reunião

conjunta deste colegiado com os pró-reitores de Extensão da Região nos

dias 30 a 31 de agosto, em Salvador, para que possam traçar um projeto

alternativo de inclusão social. O encontro dos dois fóruns foi

proposto por Ariosto, convidado a participar.



“Pela primeira vez, nós vamos tentar interagir também com os

pró-reitores de Extensão, para que a gente possa apresentar projetos

na área de extensão tecnológica, informou Nunes.



O pró-reitor de Pós-Graduação da Universidade de Salvador (Unifacs),

Luís Pontes, secretário-executivo do Fórum nacional de Pró-Reitores de

Pesquisa e Pós-Graduação, informou que o encontro de agosto será

preparatório para o de outubro com a Bancada Federal do Nordeste.

Para ele, o encontro com Ariosto foi “um divisor de águas”.



“Sempre as Universidades reclamavam de não terem acesso à Câmara para

discutir os problemas de recursos que elas têm”, disse Luís Pontes.

“Agora, por outro lado, pelo que o deputado falou, as Universidades

estavam com pouca ação. Um lado e o outro não se conversavam. A gente

podia estar influenciando mais. Mas não sabia como chegar lá”,

relatou.



Segundo Pontes, a abertura que o deputado deu é muito grande. Vai ser

preparado, já para agosto, um texto do Foprop justificando o que é a

necessidades das universidades do Nordeste e de que forma isso poderia

ser apresentado na Câmara, para a Bancada do Nordeste. “Vamos

trabalhar essa proposta em junho e agosto para apresentar em outubro”,

afirmou.



O Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UFPE, Celso Melo, disse

que Ariosto foi convidado, “não só porque é um deputado cuja atuação é

sempre muito ligada à questão de ciência e tecnologia, referência na

área, mas também porque vem sendo ao longo dos últimos anos um dos

defensores do biodiesel”. A palestra, segundo ele, visou tornar mais

conhecido entre os pró-reitores os desafios que existem para esse

desenvolvimento tecnológico.



“É importante que o grande programa nacional seja examinado do ponto

de vista de todos os desafios de ciência e tecnologia, para que o país

não embarque nele sem ter mapeado todas as dificuldades. O papel da

universidade é este, gerar o conhecimento nas questões específicas”,

disse Celso Melo.



Para Celso Melo, que é também vice-presidente da SBPC, biodiesel é um

excelente programa brasileiro e, por isso, possivelmente suas soluções

científicas ou tecnológicas não vão ser importadas por nenhum outro

país “Nós vamos ter que resolver os nossos próprios problemas. Que

sejam identificados, desde já”.



De acordo com Celso Melo, cada pró-reitor deve passar essas

informações sobre biodiesel para os coordenadores de pós-graduação na

sua Universidade, e fazer com que cheguem aos grupos de pesquisa que

exerçam atividades relacionadas à cadeia do conhecimento. Para ele, o

biodiesel envolve a questão agropecuária, do cultivo, manejo de solo,

de saúde pública, questões tecnológicas e questões ambientais

importantes como o que fazer com a glicerina, um subproduto do

biodiesel de mamona. “Com essa quantidade, vai ser um vinhoto ou se

vai ter uma solução?”, questiona.



Celso Melo defende como fundamental que toda cadeia do conhecimento

subjacente ao programa do biodiesel seja observado pelas agências

financiadoras – CNPq, Capes, Ministério da Ciência e Tecnologia e

Finep. Para isso, propõe que os seus editais estimulem que os grupos

de pesquisa apresentem propostas para resolver esses desafios.



“Eu pessoalmente acredito que o País tem investido menos do que

deveria em fundamentos científicos e em programas de energia

fotovoltaica”, assinala Celso Melo. Para ele, é absurdo que Alemanha e

Inglaterra tenham programas de energia solar muito mais desenvolvidos

do que um país tropical como o Brasil. “Para mim não faz sentido”,

afirma.



Segundo o pró-reitor da UFPE, energia fotovoltaica é um dos exemplos

em que o país investe menos que a sua capacidade e a sua necessidade,

e o biodsiesel. “É importante que o governo lance um programa, mas que

esses desafios sejam mapeados. Para resolver os problemas tem que

primeiro saber que problemas têm para ser resolvidos. E ter certeza de

que de fato nós tenhamos o completo domínio do conhecimento científico

e tecnológico do programa biodiesel.



“Eu pessoalmente não tenho certeza de que temos este completo domínio.

Acho que valeria a pena investigar melhor”, propõe Celso Melo.



Nunes informa está sendo realizado na Uece o primeiro seminário de

biotecnologia, com a apresentação de 1.600 trabalhos de iniciação

científica e uma feira com 10 eventos. Segunda feira, a palestra do

diretor de Programas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Nível Superior do Ministério da Educação (Capes/MEC), José Fernandes

Lima, abriu a semana. Nesta terça-feira, haverá encontro para discutir

a interação das universidades mais fracas com as mais fortes, para

identificar formas de colaboração e, na quarta-feira, seminário de

biotecnologia com o coordenador da Renorbio, Carlos Henrique Nery

Costa.



Fundo de Educação Profissional



Ariosto Holanda disse ainda que o Conselho de Altos Estudos da Câmara

aprovou o projeto de lei que vai ser assinado por todos os membros

para a criação de um Fundo de Educação Profissional que tenha como

recursos básicos e fundamentais 1,5% do FAT e 5% do FNDCT, que somam

R$ 350 milhões por ano.



O Fundo terá como foco os trabalhos de extensão, de capacitação da

população a partir das universidades e dos institutos de tecnologia,

que conforme o deputado, detêm o conhecimento.



“Não tenho dúvida de que vai ser aprovado. Até o final do ano

estaremos com as ações de capacitação da população, que vão se basear

muito na implantação no país dos Centros Tecnológicos”, disse Ariosto.



O parlamentar informa que foi constituído um grupo de trabalho pelo

ministro Fernando Haddad com técnicos do MCT e do MEC para, em 65

dias, apresentar as ações que o governo federal tem que implementar

para as ações dos CVTs no país.



Segundo ele, há um comentário que o próximo Proep 2, que é financiado

pelo BID, está escolhendo como projeto de referência o CVT e os

Centros Vocacionais.



Ariosto informa que uma das idéias em cogitação é que os novos Centros

Vocacionais, que são um projeto do MCT, ao serem aprovados e liberados

os recursos, eles o façam definindo a gestão de um órgão de educação.

Podem ser as Universidades estaduais ou federais e os Cefets, que

também vão ser envolvidos nesse processo, observa.



“Hoje, o governo federal tem como referência para a capacitação da

população esse projeto que nasceu no Ceará, que foi o dos CVTs”. O

deputado acrescenta que se pretende apresentar esse estudo, hoje quase

em fase de conclusão, na realização da Conferência Nacional de

Educação Profissional, de 15 a 18 de agosto, em Brasília.



“Vamos levar para exposição da Conferência o modelo dos CVTs, a

exemplo do que fizemos na Câmara dos Deputado. O próprio ministro da

Educação pediu ao deputado que levasse um CVT, relata. Para ele, o

projeto tem tudo para dar certo.



“Se houver um apoio da comunidade, da sociedade, das universidades, a

gente chega lá”, disse ele. O deputado estima haver no orçamento deste

ano, em recursos das emendas de Comissão, de Parlamento e de Bancada,

uns R$ 100 milhões para aplicação nos CVTs.



( por Flamínio Araripe, especial para a Bancada do Nordeste)

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