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( Brasília- DF, 09/06/2006) Atualmente, cerca de 10% dos parlamentares da Câmara dos Deputados são eleitos pelos evangélicos. Considerada a terceira bancada mais forte da Casa, atrás dos ruralistas e dos representantes da saúde, o número de parlamentares ligados à religião evangélica somam o número de 73 deputados federais.
A rigor, apenas três dos 30 partidos existentes no Brasil carregam no nome alguma denominação religiosa: o Partido Trabalhista Cristão (PTC), antigo PRN, o Partido Social Cristão (PSC) e o Partido Social Democrata Cristão (PSDC). Mas a colheita de votos em igrejas e templos está cada vez mais acentuada. Os representantes dos evangélicos não se restringem aos partidos religiosos, estando presentes nos mais diversos segmentos partidários do país.
O Pastor Pedro Ribeiro (PMDB-CE) é um exemplo. Ele já foi filiado ao PDC, PSDB, PTB, PL e hoje é deputado federal pelo PMDB. Sua atuação política teve início em 1989 quando foi vereador de Fortaleza (CE). Hoje o Ministro da Assembléia de Deus é vice-líder da Frente Parlamentar Evangélica da Câmara.
A Frente Parlamentar Evangélica foi criada em 2003 para arregimentar e articular melhor sua ação coletiva no Congresso Nacional. No mesmo ano conseguiram, mediante intensa mobilização religiosa e pressão política, alterar o novo Código Civil. A Frente atuas nos debates legislativos relacionados às propostas de descriminalização do aborto e do consumo de drogas, à união civil de homossexuais, aos direitos humanos e sexuais, às tecnologias reprodutivas, à clonagem humana, ao uso de células embrionárias em pesquisas científicas, ao ensino religioso nas escolas públicas, à reforma política.
HISTÓRIA – A separação entre Estado e Igreja no Brasil ocorreu em 1889 com a Proclamação da República. Até então, o imperador era dotado do instrumento do “beneplácito”: conforme suas conveniências, aceitava ou não determinações do Papa. Mesmo assim, os padres se mantiveram fiéis à monarquia até a madrugada de 15 de novembro. E a influência religiosa se manteria ao longo do século 20.
Nos primórdios da República, com o advento dos maçons republicanos, os católicos caíram no ostracismo. O protestantismo, que havia desembarcado no País através do luteranos imigrantes alemães no século 19, começava a avançar. Depois da fundação da Igreja Evangélica Alemã do Brasil, em 1904, uma missão de americanos abria as portas da Igreja Evangélica Luterana do Brasil. Ao final da Segunda Guerra, a Alemã do Brasil desembocaria na Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil.
O início do século também marcaria a chegada dos batistas, metodistas e presbiterianos. Os pentecostais não tardariam. Em 1910, foi fundada a Congregação Cristã do Brasil. Ano seguinte, era vez da Assembléia de Deus. Outra grande denominação pentecostal surgiria na década de 50, com a Igreja Quadrangular.
Os evangélicos, segundo o IBGE, eram apenas 2,6% da população brasileira em 1940. Avançaram para 3,4% em 1950, 4% em 1960, 5,2% em 1970, 6,6% em 1980, 9% em 1991 e 15,4% em 2000, ano em que somavam 26.184.941 de adeptos. A expansão evangélica, já elevada nas décadas anteriores, acelerou-se muito no último decênio do século XX. Entre 1991 e 2000, pentecostais e protestantes (os grupos denominacionais que compõem a religião evangélica) cresceram anualmente 8,9% e 5,2%, respectivamente. No período, os pentecostais saltaram de 8.768.929 para 17.617.307 adeptos (ou de 5,6% para 10,4% da população), ao passo que os protestantes históricos passaram de 4.388.310 para 6.939.765 (de 3% para 4,1%). Atualmente, o Brasil abriga mais de 30 milhões de evangélicos, dois terços dos quais pentecostais, o que consolidou de vez o pentecostalismo na posição de segundo maior grupo religioso do país.
Em uma entrevista especial o Pastor Pedro Ribeiro fala sobre a atuação da Frente Parlamentar Evangélica na Câmara, avaliando suas conquistas e lutas no Congresso; revela as estratégias para as próximas eleições; e avalia tendência de voto dos evangélicos à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva para Presidente da República. A última pesquisa espontânea do IBOPE, divulgada em maio, revelou que 29 % dos evangélicos votariam em Lula. O percentual médio de votos de Lula foi de 33 %. Os católicos ainda são maioria na preferência pelo candidato, com percentual de 35 % de votos. Mas os dados apontam para um grande aumento do apoio dos evangélicos ao candidato petista. Segue abaixo os principais pontos da entrevista.
Política Real – Deputado, como você avalia o resultado da última pesquisa do IBOPE em que 29 % dos Evangélicos declararam voto ao presidente Lula?
Pastor Pedro Ribeiro – “Quando Lula surgiu, ele gozava de grande apoio dos movimentos sociais católicos. O percentual do apoio de católicos, nessa pesquisa, é maior do que a média geral, o que comprova sua preferência entre esse segmento religioso. Mas o interessante é ver como os evangélicos aparecem com um percentual de aceitação muito alto. O candidato não era bem visto pelos evangélicos, em razão de representar um PT muito radical, de mudanças abruptas, com aquele jeito revolucionário, barbudo. Então havia muita preocupação da religião evangélica. Nessa legislatura, a nossa Frente Parlamentar conseguiu mudar o código civil, para que entrasse a liberdade de culto no Brasil. Eu estava no Palácio do Planalto quando Lula assinou a Lei. Ele disse: ‘Vocês os evangélicos tinham medo de mim. Não queriam votar em mim, dizendo que como presidente eu ia fechar igrejas. Hoje estou sancionando a lei que dá plena liberdade a religião evangélica’. A igreja hoje está mudando muito o seu perfil e conquistando as classes A e B, mas a massa dos evangélicos ainda é muito representada por gente mais humilde. Gente que é beneficiada pelos projetos sociais do governo, como o bolsa escola. Essa pesquisa mostra um percentual mais baixo do que os do católicos mas é muito alto para a comunidade evangélica. Essa aceitação, creio que seja pela questão do projeto social.”
Política Real – Qual a representação da comunidade evangélica no Nordeste?
Pastor Pedro Ribeiro – “Na nação o percentual é quase 17 %. Uma média muito alta em todos os estados. O meu estado, Ceará, é um com as médias mais baixas. O Ceará ocupa 25º colocação no percentual de comunidades evangélicas do país. A minha Igreja, Assembléia de Deus, tem hoje 200 mil membros no estado do Ceará, dentre 4 milhões de habitantes. Então é uma atuação muito marcante, principalmente os pentecostais que estão presentes na rádios e nos programas de televisão. É uma atuação muito inserida na sociedade. A realidade do Nordeste contribui para uma redenção maior. Os IDHs são mais baixos. E onde há mais sofrimento a gente busca mais a Deus”.
Política Real – Na sua opinião qual as principais conquistas da Frente Parlamentar Evangélica no Congresso?
Pastor Pedro Ribeiro – “A atuação marcante da bancada foi a que eu citei anteriormente. O código civil atuou durante 400 anos na nação, se não estou enganado, e reconhecia as sociedades religiosas. Ele permitia que as entidade religiosas promovessem seus cultos em qualquer lugar e que tivessem seu próprio estatuto. A igreja católica na defesa do primeiro código civil puxou um documento, chamado decreto 119 A, de Floriano Peixoto, estabelecendo a Nação Laica. E todas as constituições acompanharam esse decreto reconhecendo que o estado não pode cuidar de questões da igreja e a igreja não pode se meter com o estado. Neste novo código civil eliminaram isso da prática religiosa. Ficamos equiparados as associações. A igreja orienta o seu povo pela Bíblia. Se alguém fere os mandamentos da Bíblia tem que ser chamado para disciplina. Mas o associado estava protegido pelo regimento da associação e não podia ser expulso da Igreja. Ficou muito frágil a instituição. Eu me levantei, junto com outros deputados, para mudar o código 44 e colocar a igreja junto com os partidos políticos. Hoje nós podemos celebrar a religião dentro de nossos próprios estatutos e o estado não pode interferir. Esse foi o nosso grande feito, para todos os religiosos, independente da igreja. Foi a maior conquista nossa. O presidente Lula sancionou a mudança na Lei no dia 22 dezembro de 2003”.
Política Real – Que outros projetos defendem a bancada evangélica na Câmara?
Pastor Pedro Ribeiro – “A pesquisa com células tronco embrionárias, por exemplo. Nós não fomos vitoriosos, mas no primeiro momento nós fomos. O Aldo Rebelo (PCdoB-SP) foi o relator desse projeto. Conseguimos mostrar que a pesquisa de células tronco embrionários não deveria estar dentro de um projeto dos transgênicos. Mas no Senado eles inseriram de volta no projeto e foi aprovado. Não saímos vitoriosos mas ajudamos para uma grande conscientização. Temos segurado com muito zelo aquele esforço dos homossexuais e correlatos que estão lutando para União de pessoas do mesmo sexo. Até hoje temos conseguido segurar isso. Agora estão tentando dar direito ao parceiro sexual de ter direto a atendimento médico mesmo que a instituição seja privada. Estamos lutando contra. A questão do aborto também é muito forte e estamos mostrando que é uma afronta a família. A questão da camisinha ser distribuída para adolescentes, não concordamos. Tudo bem se conscientizar pessoas mais maduras, mas dessa forma não está certa. Além de muitos outros esforços.
Política Real – Qual a representação da Bancada Evangélica hoje no Congresso?
Pastor Pedro Ribeiro – “Hoje temos 73 deputados evangélicos, mas alguns não freqüentam nossas reuniões. Contamos realmente com 58 deputados e três senadores. Não fechamos votos, votamos de acordo com nossas crenças. Veja você que a nossa integração tem sido tão boa que a imprensa tem publicado que somos a terceira bancada mais importante da Casa, comparando com os ruralistas que são 150 e os da saúde que são 200. Nós somos minoria, mas estamos juntos nas nossas questões, em favor da ética, da família. Nós não somos perfeitos, mas somos trabalhadores”.
Política Real – Existe alguma estratégia para aumentar a bancada na próximas eleições?
Pastor Pedro Ribeiro – “Estamos buscando a presença de Deus para essas eleições. O Congresso tem sido altamente bombardeado pela imprensa nesse período. Mas como guardiões da fé cremos que Deus vai estar do nosso lado. Tem muita gente aí querendo que nós não voltemos, mas com nosso esforço vamos conseguir superar isso. Na elaboração do projeto de reforma política alguém escreveu: ‘a continuar como está, a bancada evangélica que hoje tem 60 deputados será 120 na próxima’. Eles querem que eleição funcione por lista, em que o capitão do partido escolhe os eleitos. Eles têm medo porque sabem que somos eleitos pela população. Eu fui vereador há muitos anos atrás. Eu estava no exterior, porque sou missionário, e quando voltei pastoriei pelo interior do Ceará. E lá do interior me elegeram deputado federal, por misericórdia e amor fraternal. Eles sabem que nós temos o povo. O bombardeio que estamos recebendo não é por acaso, é dirigido para que não voltemos. Mas vamos eleger mais gente na próxima”.
“Somos de diferentes partidos e diferentes igrejas. A Universal tem um grupo muito forte e deram um exemplo do evangelho na política. Eles têm 17 deputados. A Assembléia de Deus também estabeleceu um projeto. Depois de 90 anos de evangelho na nação, foi se envolver com política e fundou o projeto ‘Cidadania Assembléia de Deus Brasil’. E só nesse primeiro esforço nós elegemos 21 deputados federais. Esse projeto continua de pé. Existe um Conselho Nacional, inclusive o presidente desse conselho, Pastor Ronaldo Fonseca mora em Brasília. E há uma estratégia em que esses pastores, que são importantes, nos visitem nos estados para nos dar respaldo. Então há uma organização para eleger bancadas cada vez mais numerosas. A Igreja Batista tem alguns deputados. A Igreja Quadrangular tem alguns deputados. Eles não tem um projeto como o nosso, mas tem obtido sucesso também. Estamos organizados, mas acho que podemos dar um contribuição forte, os evangélicos são um pouco mais de 10 %, nós somos o dízimo aqui da Casa. Vamos aumentar essa porcentagem sem problemas. Estamos presentes para contribuir”.
( por Liana Gesteira com a coordenação de Genésio Araújo Junior)