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( Brasília-DF, 19/08/2005) Em entrevista concedida a Política Real, nesta sexta-feira, 19, o cientista político José Luciano Dias, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos (IBEP), afirmou que o país vive um momento delicado, de questionamento. O estudioso acredita que tese de conspiração das elites é “cômica” e “não se sustenta sob qualquer ponto de vista”. Segundo ele, é vantajoso, tanto para elites, quanto para oposição, que o PT mantenha-se no poder, já que é o primeiro presidente em sintonia com seus interesses econômicos. A manutenção da popularidade de Lula no Nordeste é explicada pelo “nível de formação política da população”.
Política Real: Que análise o senhor faz do momento atual da crise política brasileira?
José Luciano Dias: Nós vivemos um momento muito delicado em que o governo perde o poder, envolvido que está em denúncias de corrupção na política muito graves, então este é o momento de questionamento quanto a capacidade de o governo cumprir suas obrigações de comandar a administração pública, de chefiar o Estado e essas dúvidas quanto ao seu futuro têm um custo importante para o país.
Política Real: Que explicação o Sr dá para o governo continuar tendo sustentação, apesar das denúncias graves que existem contra ele?
José Luciano Dias: A questão da sustentação, do ponto de vista técnico, da análise de opinião pública, é normal porque a reação da opinião pública a esse tipo de denúncia é lenta, não ocorre no primeiro momento. A população é exposta à informação e muito lentamente vai se ajustando a essa realidade. Se houvesse um ambiente de crise econômica, se o governo estivesse vivendo um momento ruim, com inflação, desemprego e assim por diante, essas noticias circulariam mais rápido. Entretanto o momento é de normalidade econômica no país e então as denúncias têm um impacto gradual, mas que já é sentido nas pesquisas de opinião.
Política Real: O senhor acha que é correto pensar que existe uma teoria de conspiração das elites contra o governo Lula?
José Luciano Dias: Essa é uma tese, de certa forma, cômica, porque o governo Lula fez tudo o que aquilo que você pode chamar de elites econômicas do Brasil pediam. Elas pediram a manutenção da política econômica, a ampliação do ajuste fiscal, a manutenção da ortodoxia na política monetário, e o governo Lula fez tudo isso. Então, seria um ato de loucura das elites econômicas se elas, agora que têm um presidente completamente alinhado com seu problema econômico, resolvessem derrubá-lo, para colocar, por exemplo o (vice-presidente) Alencar, que é contra a política monetária e deseja uma política de maior intensidade e apoio ao crescimento. A tese da conspiração das elites não se sustenta sob qualquer ponto de vista.
Política Real: O senhor concorda que a saída do presidente não teria impacto positivo nas elites, porque o lucro delas está garantido no governo Lula?
José Luciano Dias: Sem dúvida, porque o que determina a situação econômica hoje é o excelente desempenho da economia mundial, que garante mercado para os produtos brasileiros o que favorece os números da nossa balança comercial e a liquidez de dólares favorece os investimentos no Brasil. Por isso, o fluxo de recursos no país continua em níveis bastante razoáveis. Assim, a chamada crise política não tem um impacto tão visível na economia.
Política Real: A relutância da oposição em pedir o impeachment no momento atual se deve ao fato de ela, como força política, estar se beneficiando com a crise?
José Luciano Dias: Sem dúvida, para a oposição hoje, com as pesquisas de opinião que estão à disposição, não há nenhum interesse em se fazer o impeachment, porque isso tornaria o presidente Lula uma vitima, que poderia argumentar ser uma vitima, aí sim, da conspiração das forças de oposição. Enquanto o PSDB e o PFL podem, com base nas pesquisas atuais, simplesmente esperar o processo eleitoral e retornar legitimamente ao poder, sem turbulência adicional. Esse cenário só não se cumprirá, se alguma evidência, mais grave, contra o presidente Lula for produzida, o que aprofundaria o desgaste da imagem dele e o Congresso não tem opção, senão julgar politicamente o presidente.
Política Real: Que interesses econômicos podem influenciar na crise?
José Luciano Dias: Bem, os estrangeiros têm os mesmos interesses que as elites econômicas nacionais. Para o investidor estrangeiro hoje, que recebe de juros nos Estados Unidos 3,5%, a taxa brasileira é de 19%. Essa taxa é quase seis vezes maior do que a taxa de juros paga, então para o investidor estrangeiro o ideal é que o Lula continue no lugar dele, praticando as políticas ortodoxas, que ele vinha fazendo até agora. Então, se existe algum interesse estrangeiro na crise, é que ela acabe, que permita que o presidente continue com as políticas que vinha seguindo.
Política Real: O fato de os principais atores da crise serem políticos nordestinos tem influência na manutenção da popularidade do presidente Lula no Nordeste?
José Luciano Dias: Essa popularidade não se deve exatamente ao Nordeste, mas ao fato de ser uma região populosa no Brasil, onde a população representa o segundo contingente do país, depois do Sudeste, um contingente relativamente urbanizado, entretanto, tem padrões de escolaridade e renda menores do que a média nacional. Então, não é um fenômeno particularmente brasileiro. Em todo lugar do mundo os segmentos de menor escolaridade e renda normalmente apóiam o governo, porque recebem benefícios do governo e o julgam de forma positiva. Isso se aplica a todo tipo de presidente. O Collor de Mello, quando caiu, tinha uma popularidade baixíssima, mas que ainda era maior na região nordestina exatamente porque lá são segmentos que julgam o governo de uma forma menos critica que os habitantes das outras regiões. Isso não tem a ver com o fato de ser representado por políticos nordestinos, mas com o nível de formação política da população. O próprio presidente Lula, que é nordestino, fez toda sua carreira política no Sudeste.
Política Real: Qual seria o papel principal desses atores da crise?
José Luciano Dias: A melhor contribuição que os atores da crise podem dar nesse momento é manter as instituições funcionando, pois elas foram desenhadas para a superação desse tipo de episódio e já o fizeram no passado. Os dirigentes dos poderes devem, agora, deixar que as coisas cumpram seu curso, que as investigações prossigam, que o Congresso e a Polícia Federal continuem funcionando e se, eventualmente, houver a comprovação de algum crime, os culpados sejam processados politicamente pelo Congresso e judicialmente, nas Cortes de Justiça.
( por Alessandra Falch com edição de Genésio Araújo Junior)