Base governista criticou duramente o Governo; potiguares e alagoanos foram os mais severos.

O “ fogo amigo” continua sendo um problema para o Governo Federal. Enquanto no Sudeste, Rio, São Paulo e Minas – chama atenção as censuras que alguns ministros fizeram à política econômica do Governo e que estaria gerando tensões no mercado financeiro, especialmente, no Nordeste os parlamentares do PT e da base aliada passaram a criticar as ações do Governo tanto no atendimento às vítimas das chuvas como no não acolhimento de pleitos que poderiam ter reduzido o impacto dessas mesmas chuvas.

No café-nordestino dessa quinta, durante as manifestações de parlamentares, virou rotina ouvir que até agora “não tinha sido distribuído um caroço de feijão( ou milho) aos atingidos”. O chefe de gabinete do ministro, Pedro Brito, que acompanha o titular da pasta, Ciro Gomes, desde a época que este foi governador do Ceará – contraditou as informações de uma parlamentar sobre a mínima distribuição de cestas. Estariam sendo distribuídas 45 mil cestas em todo o país.

RIO GRANDE DO NORTE – A deputada Fátima Bezerra, coordenadora adjunta da Bancada, disse que se sentia ultrajada ao tomar conhecimento, pela imprensa de seu estado, que só 100 cestas tinham sido distribuídas e que era um absurdo que isso acontecesse. Pedro Brito informou que seriam distribuídas 4,8 mil cestas no Rio Grande do Norte.

O deputado Melo Dias(PP-RN), da base aliada, disse que tudo deve ser visto como uma desgraça anunciada e que na cidade e Iparguaçu o quadro era gravíssimo. Ele informou que se as chuvas continuarem, na regularidade observada, a barragem de Armando Ribeiro Gonçalves, uma das maiores do Nordeste, iria arrombar. “ As águas vão levar a cidade de Ceará Mirin, e, além das pessoas atingidas, serão distruídos 40 hectares de plantação de cana de açúcar”. Ele foi enfático e perguntou:

– Quem é responsável por isso?! Quero levar respostas para o meu Estado.

O deputado Lavosier Maia(PSB-RN), aliado da governadora Wilma de Faria, que não teria sido atendida pelo ministro Ciro Gomes em recente encontro na Integração em que foi pedir ações de atendimento às enchentes – disse que o Governo Federal estava lento no atendimento e que esteve no Ministério há 10 dias – até agora não tinha havido respostas à altura, disse. Ele lamentou a ausência do ministro Ciro Gomes no encontro com a Bancada e disse que a seca mata aos poucos e a chuva de uma vez. O deputado Severiano Alves de Souza(PDT-BA) aproveitou e completou a fala de Maia, afirmando que a inércia das autoridades matavam os sobreviventes – dando seqüência as críticas ao Governo.

Maia lembrou que ações rápidas são possíveis e disse que à época de uma calamidade ,parecida, na cidade de Santa Cruz, no sudoeste potiguar, o então ministro do Interior, Mário Andrezza, teria reconstruído mil casas em 90 dias. Ele lembrou que por determinação constitucional vem a ser o Governo Federal o responsável por dar atendimento a calamidades. Segundo Maia já estão desabrigadas 17 mil pessoas no Rio Grande do Norte.

ALAGOAS – Os parlamentares da bancada alagoana foram os mais duros e incisivos ,demonstrando grande descontentamento com o atendimento às suas comunidades, além de censurarem severamente o Governo Federal nessas primeiras ações ao tempo que destacavam que essa medida anunciada, de entrega de cestas, seria uma verdadeira esmola.

Os deputados Benedito de Lira(PP-AL), Rogério Teófilo(PPS-AL) e Givaldo Carimbão(PSB-AL) se revezaram nas censuras – todos são de partidos da base aliada ao Governo Federal, e, no caso de Carimbão, em especial, ele ameaçou “entregar” a indicação do administrador da Codevasf em Alagoas, que informou ter sido recomendado ao Governo Federal por ele, se o cenário não mudar no atendimento dos pleitos a sua região. A fala de Carimbão foi reconhecida como um desabafo pelo deputado coordenador da Bancada, deputado Roberto Pessoa(PL-CE).

Benedito de Lira(PP-AL) repetiu uma frase que chamou atenção, pois se repetiu em muitas manifestações de parlamentares – “ não chegou lá um caroço de milho do governo federal” – ele não reclamou das chuvas, mas da falta de ação do poder público federal. Ele informou que a Adutora do Agreste sofreu grandes danos com essas chuvas – a bancada federal de Alagoas tinha encaminhado emenda de bancada de R$ 3 milhões mas os recursos não foram liberados. Eles constavam do OGU de 2.003. A cidade de Arapiraca seria a grande atingida por isso . Na avaliação de Benedito de Lira, essa falta de ação poderá fazer com que, em plena chuva, falte água para a população.

] Carimbão disse que essas chuvas estariam atingindo 100 % dos projetos da Codevasf e questionou o papel da Chesf , empresa que controla as barragens e hidroelétricas na área. “ A Chesf não vai se responsabilizar por isso?!”. E o “ fogo amigo” continuou. “ Não recebemos uma pataca, um vintém! Não queremos esmolas. Em 49 municípios se está distribuindo água em carro-pipa. Em plena chuva falta água para a população”, disse o deputado Ele reclamou da falta de recursos para infra-estrutura e disse que essa liberação de cestas é um esmola. “ Se cada cesta dessa vale 20 reais duas mil cestas dão 20 mil reais. Isso é esmola! ”, num comparativo com a falta de atendimento às previsões orçamentárias para atender projetos que em sua visão teriam impedido, ou minorado, o estado das comunidades. “ A Codevasf é um braço importante do Ministério da Integração mas não tem atendimento. Tive a honra de indicar a Codevasf em meu Estado mas acho que vou entregar isso”, disse.

Para completar, destacou um equívoco político de se operar ações e visitas ao Estado e não se avisar aos membros da bancada aliada sobre essas visitas, com antecedência. Carimbão criticou o que ele considerou discriminação entre os Estados. “Para o Piauí é tudo em ilhão e para Alagoas é tudo ilhinho”, numa alusão de que o Estado administrado por Wellington Dias, do PT, recebe milhões e Alagoas pouca coisa.

O deputado Rogério Teófilo(PPS-AL) que entrou no PPS com festa, recentemente, demonstrou completo descrédito e informou que tudo o que vem fazendo vem senso protocolado no Ministério da Integração para que não se argumente, no seu Estado, que estaria havendo imobilismo de sua parte. Ele teria sido um dos idealizadores tanto do café-nordestino desta quinta como do pedido formulado, conjunto com a coordenação da Bancada do Nordeste, para que se constitua uma Comissão Externa da Câmara Federal para acompanhar o atendimento às comunidades atingidas pelas chuvas intensas no Nordeste.

Rogério Teófilo informou que o drama na foz do São Francisco é intenso. Ele informou que a lua cheia dos próximos dias fará com que a maré alta de até 10 metros fará com que o rio reflua e as inundações se intensifiquem, especialmente na área próxima a Piabuçu.

( por Genésio Araújo Junior)

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